"Ninguém pode ver o reino de Deus, se não nascer de novo."
(Jo 3,1-8)
Os termos são distintos e fundamentam filosofias religiosas
divergentes. Os que acreditam no primeiro ignoram o segundo e vice
versa. Antes de mais nada, é necessário explicar o significado de cada
um deles:
Ressurreição
A palavra ressurreição deriva do
latim resurrectio, que é uma variação de resurgere e significa
levantar-se, erguer-se novamente, ressurgir. Na linguagem bíblica, a
ressurreição indica o retorno do espírito a um corpo considerado morto,
ou seja, àquele que se foi, volta a viver.
O caso de ressurreição de
maior visibilidade é o que diz respeito à Jesus, o qual, segundo a
tradição, ressurgiu dos mortos após o terceiro dia de sua crucificação,
entretanto, este não é o único episódio de ressurreição descrito na
bíblia.
Reencarnação
Já a definição de reencarnação, do
latim incarnare, é o mesmo que retornar a carne, reassumir a forma
humana. Para as doutrinas intituladas reencarnacionistas, o termo é
utilizado para definir o retorno do espírito a um novo corpo, desta
forma, um mesmo espírito submete-se a sucessivas reencarnações em corpos
físicos diferentes.
Confrontando os Termos
Historicamente, comprova-se que os judeus acreditavam na reencarnação
sem conhecer o mecanismo exato de como ela acontecia. Entendia-se, na
época, que a alma poderia, de alguma forma, retornar a vida. Assim
sendo, chamavam-na de ressurreição. Somente os saduceus não acreditavam
na imortalidade da alma, defendendo a teoria de que tudo terminava com a
morte.
Verificamos aí, que em algum momento da história, o significado dos termos colocados em estudo se confundem entre si.
Ressurreição e Reencarnação para o Espiritismo
O tema é amplamente discutido pela Doutrina Espírita, afinal, a
pluralidade das existências (reencarnação) é um dos grandes pilares do
Espiritismo. Encontramos a explicação dos espíritos para este assunto em
diversas obras, dentre elas, em "O Livro dos Espíritos" e "O Evangelho
Segundo o Espiritismo".
Como sempre frisamos, a doutrina codificada
por Allan Kardec defende a análise de todos os assuntos estudados de
forma racional, evitando cair naquilo que chamamos de "fé cega". Levando
em consideração este aspecto doutrinário do espiritismo, a ressurreição
interpretada no sentido correto da palavra é cientificamente impossível
de se verificar. Um corpo físico, após a paralisação definitiva de suas
funções (devida constatação de morte), não é capaz de recuperar suas
atividades fisiológicas, desta forma não há uma possibilidade lógica de
ressurreição.
A cerca da reencarnação, o espiritismo entende que
para concluir o progresso moral e intelectual, o espírito necessita de
variados estágios no plano físico, fato que acontece através da
pluralidade das existências. É pela lei da reencarnação que o homem se
aproxima de Deus: ao “nascer de novo”, criam-se as condições de
igualdade e de oportunidades para todos os espíritos, desta forma, é
possível compreender com clareza a citação de Jesus:
“ [...] Em verdade vos digo que ninguém verá a luz dos céus, se não nascer de novo”.
Vejamos a elucidação dos espíritos a cerca do assunto em "O Livro dos Espíritos":
166. Como pode a alma, que não alcançou a perfeição durante a vida corpórea, acabar de depurar-se?
“Sofrendo a prova de uma nova existência.”
a) — Como realiza essa nova existência? Será pela sua transformação como Espírito?
“Depurando-se, a alma indubitavelmente experimenta uma transformação, mas para isso necessária lhe é a prova da vida corporal.”
b) — A alma passa então por muitas existências corporais?
“Sim, todos contamos muitas existências. Os que dizem o contrário
pretendem manter-vos na ignorância em que eles próprios se encontram.
Esse o desejo deles.”
Há, entretanto, aqueles que se posicionam
de forma contrária a reencarnação, alegando que seria uma grande
injustiça resgatar em uma nova vida os débitos de existências
pretéritas. Estes ainda estão convictos de que Deus reserva-nos um lugar
para que aguardemos o dia do "Juízo Final", onde acontecerá o
julgamento definitivo, estando as almas absolvidas destinadas ao céu se
assim o merecerem, ou fadadas ao sofrimento eterno.
Outros, porém,
creem que Deus é capaz de perdoar todos os nossos pecados e absolver-nos
mediante nosso arrependimento. Para isso é necessário apenas pedir
perdão, ou confessar a um sacerdote os pecados por nós praticados; e
então, essa figura humana, também pecadora, haverá de impor uma
penitência que fará com que nossos débitos sejam liquidados.
A resposta à essas considerações está contida na questão 171, ainda em "O Livro dos Espíritos":
171. Em que se funda o dogma da reencarnação?
“Na justiça de Deus e na revelação, pois incessantemente repetimos: o
bom pai deixa sempre aberta a seus filhos uma porta para o
arrependimento. Não te diz a razão que seria injusto privar para sempre
da felicidade eterna todos aqueles de quem não dependeu o melhorarem-se?
Não são filhos de Deus todos os homens? Só entre os egoístas se
encontram a iniquidade, o ódio implacável e os castigos sem remissão.”
Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios
de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua
justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não
puderam fazer ou concluir numa primeira prova.
Não obraria Deus com
equidade, nem de acordo com a sua bondade, se condenasse para sempre os
que talvez hajam encontrado, oriundos do próprio meio onde foram
colocados e alheios à vontade que os animava, obstáculos ao seu
melhoramento. Se a sorte do homem se fixasse irrevogavelmente depois da
morte, não seria uma única a balança em que Deus pesa as ações de todas
as criaturas e não haveria imparcialidade no tratamento que a todas
dispensa [...].
[...] Se crê na justiça de Deus, não pode contar
que venha a achar-se, para sempre, em pé de igualdade com os que mais
fizeram do que ele.
Podemos encontrar diversos apontamentos
relacionados a reencarnação na própria bíblia. Uma das citações mais
significativas, diz respeito a narrativa de Jesus à seus discípulos, o
qual afirma que Elias retorna como João Batista:
[...] Seus
discípulos então o interrogaram desta forma: “Por que dizem os escribas
ser preciso que antes volte Elias?” –Jesus lhes respondeu: “É verdade
que Elias há de vir e restabelecer todas as coisas: – mas, eu vos
declaro que Elias já veio e eles não o conheceram e o trataram como lhes
aprouve. É assim que farão sofrer o Filho do Homem.” – Então, seus
discípulos compreenderam que fora de João Batista que ele falara.
(Mt 17,10-13; Mc 9, 11-13.).
A Ressurreição de Jesus segundo o Espiritismo
Como já citado anteriormente, a ressurreição, mediante os aspectos
científicos, é improvável. Uma vez rompido os laços que unem a matéria
ao espírito, não há mais a possibilidade de animação daquele corpo
físico por qualquer espírito. Ainda assim, os mais religiosos alegariam:
"Para Deus, nada é impossível." E de fato não é mesmo, todavia, Deus
jamais derrogou sua própria Lei, por isso Jesus teve que passar por
nove meses de gestação.
Para o Espiritismo, o aparecimento de Jesus à
Maria e seus discípulos é justificado pela materialização do espírito,
fato que pode ocorrer com todo e qualquer espírito desencarnado que
queira e tenha condições de se tornar visível aos olhos físicos. Sobre
esta questão, o apóstolo Pedro comenta:
"... Sofreu a morte em seu corpo, mas recebeu vida pelo Espírito"
(Pe 3,18)
Jesus se mostrou em espírito e não em matéria como defendem as teorias
ressurreicionistas. Algumas passagens bíblicas dão conta de que Jesus,
após a "ressurreição", aparecia e desaparecia subitamente; alguns
discípulos o viam e outros não; e ainda, adentrou em uma casa à portas
trancadas. Todos esses fatos são alheios ao espírito encarnado,
entretanto, são perfeitamente normais aos espíritos desencarnados.
Mas então, onde foi parar o corpo de Jesus?
Existem várias teorias a respeito do desaparecimento do corpo de Jesus,
algumas delas um tanto quanto absurdas. A hipótese mais lógica e
apresentada por alguns historiadores, foi a de que o Sinédrio furtou o
corpo de Jesus Cristo para evitar que a sepultura do Nazareno tornasse
um local de peregrinação entre os cristãos. Outra teoria aceita pelo
espiritismo é de que houve uma desmaterialização do corpo físico, fato
provocado pela espiritualidade superior, afim de que não houvesse um
culto desnecessário ao corpo de Jesus, deixando de lado o espírito. A
prova dessa desmaterialização estaria presente no Santo Sudário (véu que
envolveu o corpo de Jesus após sua morte).
Curiosamente, nenhum dos
evangelhos considerados canônicos pela igreja, estão de acordo no que
diz respeito a ressurreição do Carpinteiro de Nazaré. Não se sabe ao
certo o que havia dentro do túmulo de Jesus, tão pouco, quem foram as
pessoas que possivelmente testemunharam o ocorrido. Mateus, Lucas,
Marcos e João apresentam versões diferentes sobre o assunto.
O fato é
que Jesus ressuscitou em espírito, como acontece com todos nós após o
desencarne. Deixamos o invólucro material que é transitório, para
renascer na vida espiritual. Jesus se mostrou para àqueles que ficaram,
afim de reafirmar aquilo que pregou durante sua passagem no plano
físico: "Existe vida após a vida, pois a carne é perecível, mas o
espírito é imortal".
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