1 - Origem do Espírito
Ensina a Doutrina Espírita que o
espírito (escrito em letra minúscula) é o princípio inteligente do
Universo, sendo a inteligência seu atributo essencial. Esse princípio
inteligente, que tem sua origem no elemento inteligente universal, passa
por um processo de elaboração e individualização até o transformar-se
no ser denominado Espírito.
Assim, a palavra Espírito, tanto é
empregada para designar o princípio inteligente do Universo, quanto para
designar esse mesmo princípio após a sua individualização. O Espírito é
criado por Deus. Não é, porém uma emanação ou uma porção da Divindade. É
sua obra, exatamente qual a máquina o é do homem que a fabrica. A
máquina é a obra do homem, não é o próprio homem.
Deus cria o
Espírito pela sua vontade, como faz em relação a tudo no Universo. Como
Deus jamais deixou de criar, a criação dos Espíritos é permanente.
O Espírito é a individualização do princípio inteligente assim como o
corpo é a individualização do princípio material. Essa individualização
do princípio inteligente se efetua numa série de existências essas onde o
princípio inteligente passa a primeira fase do seu desenvolvimento,
ensaiando-se para a vida. Esse seria para o Espírito, por assim dizer, o
seu período de incubação. É de certo modo, um trabalho preparatório,
como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre
uma transformação e se torna Espírito. Entra então no período da
humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de
distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos.
2 - Evolução do princípio inteligente
A propósito, ensinam os Espíritos Superiores que os elementos orgânicos
formadores dos germens que propiciaram a união do princípio inteligente
à matéria achavam-se, por assim dizer, no estado de fluido no Espaço,
no meio dos Espíritos, ou em outros planetas, à espera da criação da
Terra para começarem existência nova em novo globo. Depois de criada a
Terra, esses germens ficaram aguardando as condições propícias para se
desenvolverem no planeta.
Assim, podemos dizer que o princípio
inteligente se individualiza lentamente por um processo de elaboração
das formas inferiores da natureza, a fim de atingir gradativamente a
humanidade. Através de mil modelos inferiores, nos labirintos de uma
escalada ininterrupta; através das mais bizarras formas; sob a pressão
dos instintos e a sevícia de forças inverossímeis, vai tendendo para a
luz, para a consciência esclarecida, para a liberdade. Esses inúmeros
avatares, em milhares de organismos diferentes, devem dotar o princípio
inteligente de todas as forças que lhe hajam de servir mais tarde. Eles
têm por objeto desenvolver o envoltório fluídico, dar-lhe a necessária
plasticidade, fixando nele as leis cada vez mais complexas que regem as
formas vivas, criando-lhes assim, um potencial, mediante o qual possam,
um dia, manipular a matéria, de modo inconsciente, para que o Espírito
possa operar sem o entrave dos liames terrestres. Quem recusará ver nos
milhões de existências a palpitarem no Planeta a elaboração sublime da
inteligência, prosseguindo incessante na extensão indefinita do tempo e
do espaço? São as Leis Eternas da Evolução que arrastam o princípio
inteligente a destinos cada vez mais altanados, para um futuro sempre
melhor, desdobrando-se em panorama de renovadas perspectivas, a partir
da idade primária aos nossos dias. Não for o acaso que gerou essas
espécies animais e vegetais. No seu desfile, a consequente possui sempre
algo mais que a antecedente e, quando a ciência nos desvenda os quadros
sucessivos dessas transmutações, é que vemos a inapreciável riqueza
nelas contida, a ampliar-se sempre. Quanta majestade nessas fases de
transição! Que grandeza nessa marcha lenta, porém firme, para chegar ao
homem, florescência da força criadora, magnífica joia que resume e
sintetiza todo o progresso.
Tudo no Universo está submetido à lei
do progresso. Desde a célula verde, desde o embrião errante, boiando à
flor das águas, a cadeia das espécies tem-se desenrolado através de
séries variadas, até nós. Cada elo dessa cadeia representa uma forma da
existência que conduz a uma forma superior, a um organismo mais rico,
mais bem adaptado às necessidades, às manifestações crescentes da vida;
mas, na escala da evolução, o pensamento, a consciência e a liberdade só
aparecem passados muitos graus. Na planta, a inteligência dormita; no
animal, sonha; só no homem acorda, conhece-se, possui-se, e torna-se
consciente.
A união do princípio inteligente à matéria, assim
como o processo evolutivo desse mesmo princípio inteligente, até atingir
a sua individualização plena, são descritos pelo Espírito André Luiz da
seguinte maneira:
"A matéria elementar dera nascimento à
província terrestre, no Estado Solar a que pertencemos. A imensa
fornalha atômica estava habilitada a receber as sementes da vida e, sob o
impulso dos Gênios Construtores, que operavam no orbe nascituro, vemos o
seio da Terra recoberto de mares mornos, invadido por gigantesca massa
viscosa a espraiar-se no colo da paisagem primitiva. Dessa geleia
cósmica, verte o princípio inteligente, em suas primeiras manifestações.
Trabalhadas, no transcurso de milênios, pelos operários espirituais que
lhes magnetizam os valores, permutando-os entre si, sob a ação do calor
interno e do frio exterior, as mônadas celestes (princípio inteligente)
exprimem-se no mundo através da rede filamentosa do protoplasma de que
se lhes derivaria a existência organizada no Globo constituído. Séculos
de atividade silenciosa perpassam, sucessivos.
Das
cristalizações atômicas e dos minerais, do vírus e do protoplasma, das
bactérias e das amebas, das algas e dos vegetais do período pré-câmbrico
aos fetos e às licopodiáceas, aos trilobites e cistídeos, aos
cefalópodes, foraminíferos e radiolários dos terrenos silurianos o
princípio espiritual atingiu os espongiários e celenterados da era
paleozoica, esboçando a estrutura esquelética.
Avançando pelos
equinodermos e crustáceos, entre os quais ensaiou, durante milênios, o
sistema vascular e o nervoso, caminhou na direção dos ganóides e
teleósteos, arquegossauros e labirintodontes para culminar nos grandes
lacertinos e nas aves estranhas, descendentes dos pterossauros, no
jurássico superior, chegando à época supracretácea para entrar na classe
dos primeiros mamíferos, procedentes dos répteis teromorfos. Viajando
sempre, adquire entre os dromatérios e anfitérios os rudimentos das
reações psicológicas superiores, incorporando as conquistas do instinto e
da inteligência. Estagiando nos marsupiais e cetáceos do eoceno médio,
nos rinocerotídeos, cervídeos, antilopídeos, equídeos, canídeos,
proboscídeos e antropóides inferiores do mioceno e exteriorizando-se nos
mamíferos mais nobres do plioceno, incorpora aquisições de importancia
entre os megatérios e mamutes, precursores da fauna atual da Terra, e,
alcançando os pitecantropóides da era quaternária, que antecederam as
embrionárias civilizações paleolíticas, a mônada vertida no Plano
Espiritual sobre o Planeta Físico atravessou os mais rudes crivos da
adaptação e seleção, assimilando os valores múltiplos da organização, da
reprodução, da memória, do instinto, da sensibilidade, da percepção e
da preservação própria, penetrando assim, pelas vias da inteligência
mais completa e laboriosamente adquirida, nas faixas inaugurais da
razão. Compreendendo-se, porém que o princípio divino aportou na Terra,
emanando da Esfera Espiritual, trazendo em seu mecanismo o arquétipo a
que se destina, qual a bolota de carvalho encerrando em si a árvore
veneranda que será de futuro, não podendo circunscrever-lhe a
experiência ao plano físico simplesmente considerado, porquanto, através
do nascimento e morte da forma, sofre constante modificações nos dois
planos em que se manifesta, razão pela qual variados elos da evolução
fogem à pesquisa dos naturalistas, por representarem estágios da
consciência fragmentária fora do campo carna propriamente dito, nas
regiões extrafísicas, em que essa mesma consciência incompleta prossegue
elaborando o seu veículo sutil, então cassificado como protoforma
humana, correspondente ao grau evolutivo em que se encontra."
( André Luiz / Chico Xavier, Evolução em Dois Mundos )
Como se vê, por tudo que foi exposto, a mônada vai modelando, ao longo
das eras, em seu processo de individualização, não só as suas estruturas
físicas , mas também o seu envoltório fluídico, até tornar-se Espírito e
estar apto para ingressar no período da Humanidade. Esse processo de
modelagem, contudo, não se interrompe aí, antes se aprimora, pela
evolução do Espírito, conforme deflui do seguinte ensino de Kardec:
"O corpo é, pois o envoltório e o instrumento do Espírito e, à medida
que este adquire novas aptidões, reveste outro invólucro apropriado ao
novo gênero de trabalho que lhe cabe executar, tal qual se faz com o
operário, a quem é dado instrumento menos grosseiro à proporção que ele
se vai mostrando apto a executar obras mais bem cuidadas. Para ser mais
exato, é preciso dizer que o próprio Espírito que modela o seu
envoltório e o apropria às suas novas necessidades; aperfeiçoa-o e lhe
desenvolve e completa o organismo, à medida que experimenta a
necessidade de manifestar novas faculdades; numa palavra, talh-o de
acordo coma sua inteligência. Deus lhe fornece os materiais; cabe-lhe a
ele empregá-los. Desde que um Espírito nasce para a vida espiritual,
tem, por adiantar-se, que fazer uso de suas faculdades, rudimentares a
princípio. Por isso é que reveste um envoltório adequado ao seu estado
de infância intelectual, envoltório que ele abandona para tomar outro, à
proporção que se lhe aumentam as forças. Quanto ao envoltório fluídico
do Espírito, esse também se modifica com o progresso moral que o
Espírito realiza em cada encarnação."
(Allan Kardec - A Gênese)
3 - Natureza do Espírito
Existem poucas informações a respeito da natureza do Espírito.
Dizem os Espíritos Superiores que o Espírito - na sua condição de
princípio inteligente individualizado - é incorpóreo, constituído de
matéria quintessenciada, ainda sem analogia para nós. A sua forma é
também, para nós indefinida. Podemos compreendê-lo como uma chama, um
clarão ou uma centelha, tendo coloração que vai do escuro e opaco a uma
cor brilhante, qual a do rubi, de acordo com a sua menor ou maior
pureza.
Em virtude da sua natureza, o Espírito pode
transportar-se com a rapidez do pensamento, sem que a matéria mais
densa lhe ofereça qualquer obstáculo. O seu poder de irradiação se
amplia, à medida que evolui, podendo, assim, projetar-se para diversos
pontos ao mesmo tempo sem se dividir, constituindo assim, o chamado dom
de ubiquidade dos Espíritos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário