O homem que desconhece Deus e não quer saber que forças, que recursos,
que socorros d’Ele promanam, esse é comparável a um indigente que habita
ao lado de palácios, cheios de tesouros, e se arrisca a morrer de
miséria diante da porta que lhe está aberta e pela qual tudo o convida a
entrar.
A crença em Deus se afirma e se impõe, fora e acima de
todos os sistemas, de todas as filosofias, de todas as crenças. O homem
não se pode desinteressar dela porque o homem é um ser pensante. O homem
vive, e importa-lhe saber qual é a fonte, qual é a causa, qual é a lei
da vida. A opinião que tem sobre a causa, sobre a lei do Universo, essa
opinião, quer ele queira ou não, quer ele saiba ou não, se reflete em
seus atos, em toda a sua vida pública ou particular.
A questão de
Deus é o mais grave de todos os problemas suspensos sobre nossas cabeças
e cuja solução se liga, de maneira restrita, imperiosa, ao problema do
ser humano e de seu destino, ao problema da vida individual e da vida
social.
O conhecimento da verdade sobre Deus, sobre o mundo e a vida
é o que há de mais essencial, de mais necessário, porque é Ele que nos
sustenta, nos inspira e nos dirige, mesmo à nossa revelia.
A crença
em Deus está instintivamente impressa na mente humana. À medida que o
homem evolui, apura-se também a crença em Deus. Dessa forma, como nos
ensinam os Espíritos Superiores, o sentimento instintivo de crer em Deus
nos prova que Deus existe. É também uma consequência do princípio – não
há efeito sem causa.
“05 - Que conclusão podemos tirar do sentimento intuitivo que todos os homens trazem em si mesmos da existência de Deus?
– A de que Deus existe; de onde lhes viria esse sentimento se
repousasse sobre o nada? É ainda uma consequência do princípio de que
não há efeito sem causa.”
Poder-se-ia argumentar que a crença em
Deus resulta da educação recebida, consequência das ideias adquiridas.
Entretanto, esclarecem os Espíritos da Codificação, se assim fosse,
porque existiria nos vossos selvagens esse sentimento?
“06 - O sentimento íntimo que temos em nós da existência de Deus não seria o efeito da educação e das ideias adquiridas?
– Se fosse assim, por que vossos selvagens teriam também esse sentimento?”
Opinando a respeito, Kardec nos elucida: “Se o sentimento da existência
de um ser supremo fosse o produto de um ensinamento, não seria
universal. Somente existiria naqueles que tivessem recebido esse
ensinamento, como acontece com os conhecimentos científicos.”
Deus
nos fala por todas as vozes do Infinito. E fala, não em uma bíblia
escrita há séculos, mas em uma bíblia que se escreve todos os dias, com
estes característicos majestosos, que se chamam oceanos, montanhas e
astros do céu; por todas as harmonias, doces e graves, que sobem no imo
da Terra ou descem dos espaços etéreos. Fala ainda no santuário do ser,
nas horas de silencio e meditação. Quando os ruídos discordantes da vida
material se calam, então a voz interior, a grande voz desperta e se faz
ouvir. Essa voz sai da profundeza da consciência e nos fala dos
deveres, do progresso, da ascensão da criatura. Há em nós uma espécie de
retiro intimo, uma fonte profunda de onde podem jorrar ondas de vida,
de amor, de virtude e de luz. Ali se manifesta esse reflexo, esse gérmen
divino, escondido em toda alma humana.
A historia da ideia de Deus
mostra-nos que ela sempre foi relativa ao grau intelectual dos povos e
de seus legisladores, correspondendo aos movimentos civilizadores, à
poesia dos climas, às raças, à florescência de diferentes povos; enfim,
aos progressos espirituais da humanidade. Descendo pelo curso dos
tempos, assistimos sucessivamente aos desfalecimentos e tergiversações
dessa ideia imperecível, que, às vezes fulgurante e outras vezes
eclipsada, pode, todavia, ser identificada sempre, nos fastos da
Humanidade. Liga-se estreitamente à ideia de Lei, e assim à de dever e
de sacrifício. A ideia de Deus liga-se a todas as noções indispensáveis à
ordem, à harmonia, à elevação dos seres e das sociedades. Eis porque,
logo que a ideia de Deus se enfraquece, todas as nações se debilitam;
desaparecem, pouco a pouco, para dar lugar ao personalismo, à presunção,
ao ódio por toda autoridade, por toda direção, por toda lei superior.
Diremos, pois, que desconhecer, desprezar a crença em Deus e a comunhão
do pensamento que a Ele se liga seria, ao mesmo tempo, desconhecer o
que há de maior, e desprezar as potências interiores que fazem a nossa
verdadeira riqueza. Seria calcar aos pés nossa própria felicidade, tudo
que pode fazer nossa elevação, nossa gloria, nossa ventura.
A ideia
de Deus impõe-se por todas as faculdades do nosso Espírito, ao mesmo
tempo que nos fala aos nossos olhos os esplendores do Universo. A
inteligência suprema revela a causa eterna, na qual todos os seres vêm
haurir força, a luz e a vida. Aí está o Espírito Divino, o Espírito
Potente, que se venera sob tantas denominações; mas sob todos esses
nomes, é sempre o centro, a lei viva, a razão pela qual os seres e os
mundos se sentem viver, se conhecem, se renovam e elevam.
Viver sem a
crença em um ser superior é negar a obra da Criação; é omitir o
evidente, o real; é alimentar o nosso orgulho; é permanecer no estado de
ignorância em que ainda nos encontramos, é, em suma, negar a realidade
que está ao alcance de todos, pois tudo no Universo, o visível e o
invisível, e, principalmente, a nossa consciência nos fala de um Ser
superior.
A crença em Deus é, além disso, questão essencial para o
entendimento da Doutrina Espírita. Entretanto para elucidar esse assunto
de tão magna importância temos agora recursos mais elevados que os do
pensamento humano; temos o ensino daqueles que deixaram a Terra, a
aparição das Almas que, tendo franqueado o tumulo, nos fazem ouvir, do
fundo do mundo invisível, seus conselhos, seus apelos, suas exortações.
Verdade é que nem todos os Espíritos são igualmente aptos a tratar
dessas questões. Nem todos estão igualmente desenvolvidos; não chegaram
todos ao mesmo grau de evolução. Acima, porém, da multidão das Almas
obscuras, ignorantes, atrasadas, há Espíritos eminentes, descidos das
esferas superiores para esclarecer e guiar a Humanidade. Ora, que dizem
esses Espíritos sobre a questão de Deus? A existência da Potência
Suprema é afirmada por todos os Espíritos elevados. Todos aqueles cujos
ensinamentos têm reconfortado as nossas almas, mitigado nossas misérias,
sustentando nossos desfalecimentos, são unânimes em afirmar, em
repetir, em reconhecer a alta Inteligência que a tudo governa.
Eles dizem que essa Inteligência se revela mais brilhante e mais sublime à medida que se escalam os degraus da vida espiritual.
Assim, nos esclarecem os Espíritos Superiores na primeira questão de O Livro dos Espíritos.
“1 – Que é Deus?
R: Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas!”
Afirmando a existência de uma causa primeira no Universo, os Espíritos
Superiores trazem, dessa forma, um novo conceito de Deus para a
humanidade, oposto à ideia de um deus antropomórfico, parcial e
vingador, apresentado pelas religiões de um modo geral. Pode-se levar
mais longe do que temos feito a definição de Deus? Definir é limitar. Em
face deste grande problema, a fraqueza humana aparece. Deus impõe-se ao
nosso Espírito, porém escapa a toda analise. O Ser que enche o tempo e o
espaço jamais será medido por seres limitados pelo tempo e pelo espaço.
Querer definir Deus seria circunscrevê-lo e quase nega-lo.
Para
resumir, tanto quanto podemos, tudo o que pensamos referente a Deus,
diremos que Ele é a Vida, a Razão, a Consciência em sua plenitude. É a
causa eternamente operante de tudo o que existe. É a comunhão Universal,
onde cada ser vai sorver a existência, a fim de, em seguida, concorrer,
na medida de suas faculdades crescentes e de sua elevação, para a
harmonia do conjunto.
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