Este tema atravessa milênios e já foi debatido por pensadores em diferentes épocas.
No ano de 2015, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) divulgou os dados de uma pesquisa realizada em 2013 sobre os
animais de estimação nos lares do país. São cerca de 74 milhões de
animais domésticos, entre gatos e cachorros. A média é de 1,8 cachorro
por residência, isso significa que existem mais cães do que crianças no
Brasil.
Desde a antiguidade os homens possuem uma estreita
relação com o mundo animal. As pinturas rupestres dão conta de que o
homem pré-histórico já interagia com os seres a sua volta e esta relação
se estreitou de maneira significativa com o passar do tempo.
A
verdade é que os animais têm ocupado um espaço cada vez maior na vida
das pessoas. Alguns preenchem o ambiente doméstico exercendo o papel de
um verdadeiro membro da família. E com toda essa proximidade, temos a
oportunidade de observar mais de perto o comportamento desses bichinhos,
que muitas vezes nos surpreendem com gestos inesperados.
Notamos
em certas espécies a capacidade de raciocínio, ainda que de maneira
limitada. Há quem diga que os animais são dotados também de sentimentos,
já que são tão leais e afetuosos.
Então, se os animais conseguem raciocinar e demonstrar sentimento, poderíamos dizer que estes seres são dotados de alma?
Este tema atravessa milênios e já foi debatido por pensadores em
diferentes épocas. Até mesmo os filósofos mais tradicionais já
procuraram responder tal indagação:
"A alma dos animais é
caracterizada por duas qualidades: a qualidade de raciocínio, que é obra
do trabalho e da razão, e a qualidade de comandar o movimento.”
Aristóteles, Da Alma.
Pitágoras e Platão não somente defendiam que os animais possuíam alma,
como acreditavam na metempsicose, que é a capacidade do espírito de
trocar de corpo após a morte física, podendo inclusive voltar a ocupar
um corpo de um animal ou um vegetal. Esta teoria, ainda hoje é
sustentada por algumas religiões.
Pesquisamos e encontramos alguns registros sobre o tema também nos manuscritos bíblicos:
"O ser humano não leva nenhuma vantagem sobre o animal, pois os dois
têm de respirar para viver. (...) Como é que alguém pode ter certeza que
o sopro de vida do ser humano vai para cima e que o sopro de vida do
animal desce para a terra?”
Bíblia, livro do Eclesiastes
Mas o que diz a Doutrina Espírita sobre o assunto?
Allan Kardec abordou este tema no primeiro livro da codificação:
597. Pois se os animais têm uma inteligência que lhes dá uma certa
liberdade de ação, há neles um princípio independente da matéria?
— Sim, e que sobrevive ao corpo.
a) Esse princípio é uma alma semelhante à do homem?
— É também uma alma, se o quiserdes: isso depende do sentido em que se
tome a palavra; mas é inferior à do homem. Há, entre a alma dos animais e
a do homem, tanta distância quanto entre a alma do homem e Deus.
Allan Kardec, O Livro dos Espíritos
De
acordo com o Espiritismo os animais possuem um princípio inteligente que
não se assemelha a alma humana. Este princípio deriva do elemento
universal, assim como o espírito. Homem e animal têm a mesma origem,
porém com desenvolvimento diferente. Quanto mais apurado é o princípio
que anima os corpos animais, maior é a sua inteligência. Podemos citar
como exemplo os chimpanzés, os equinos e os caninos que se sobressaem
com relação à outras espécies. Já o espírito do homem, além do
raciocínio, possui a capacidade de desenvolvimento moral, guardando sua
individualidade e é isso que o difere da natureza animal.
Se os animais possuem um princípio vital, poderiam reencarnar?
Os animais também reencarnam, entretanto não passam por processos
expiatórios como o espírito, pois a sua liberdade de ação está limitada
apenas à suas necessidades. Como não possuem pensamento organizado e não
têm a consciência de si, agem por instinto. Desta maneira, não podem
responder por seus atos. Sua evolução se dá pela força das coisas e não
pelo poder de decisão.
É importante ressaltar que somos todos
movidos pela marcha do progresso e toda a criação tende a evoluir. Em
mundos mais adiantados os animais também são mais desenvolvidos e sempre
caminham para o aperfeiçoamento, mas jamais se assemelham aos
espíritos.
Quando se dá a reencarnação de um animal?
Segundo os ensinamentos de "O Livro dos Espíritos", o principio vital
que anima os corpos dos animais é aproveitado de maneira quase que
imediata, após o desprendimento do corpo físico:
600. A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, fica num estado errante como a do homem após a morte?
— Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo.
Mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e
age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a
consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espírito. O
Espírito do animal é classificado, após a morte, pelos Espíritos
incumbidos disso e utilizado quase imediatamente; não dispõe de tempo
para se pôr em relação com outras criaturas.
Allan Kardec, O Livro dos Espíritos
Não obstante, existem relatos em diversas obras espíritas, da presença
de animais que se demoram um período mais longo na erraticidade. Essas
situações já foram narradas por André Luiz em "Nosso Lar" e Padre
Germano no livro: "Memórias de Padre Germano", dentre outras
literaturas.
Então estaria errada a informação contida em o Livro dos Espíritos?
De maneira alguma, todas estas informações foram adquiridas através de
desdobramento mediúnico e tal mecanismo de estudo doutrinário estava
previsto por Allan Kardec. Estes relatos apenas ampliam as informações
contidas nas obras básicas da codificação e não as contestam.
Se homens e animais partem do mesmo princípio, poderíamos ter sido animais em tempos remotos?
Não necessariamente. A espiritualidade maior nos orienta que a criação
se constitui de três princípios fundamentais: Deus, espírito e matéria,
isto é o que chamamos de trindade universal. Deus é a inteligência
suprema, causa primária de todas as coisas, a partir Dele e através dos
outros dois princípios, forma-se tudo que constitui o universo. O
Espírito é o princípio inteligente que deriva do fluído cósmico
universal, o qual evolui através da matéria. Assim entendemos que,
antes de chegar a condição de espírito, o fluído cósmico universal, se
depura na matéria dos reinos mineral, vegetal e animal. A medida em que
esse fluído se desenvolve, o princípio inteligente (espírito) se
estabelece. Sendo o espírito o princípio organizado e inteligente, este
só pode estagiar no reino hominal, que é o mais desenvolvido.
Em
outras palavras, o espírito não é capaz de vivificar uma pedra, uma
planta ou um animal, pois somente é compatível com a matéria humana. Mas
o fluído cósmico universal, antes de originar o espírito teve que se
depurar nos outros reinos por um tempo longínquo, que nem podemos
imaginar, animando diferentes matérias inferiores a nossa.
"O
FLUIDO CÓSMICO UNIVERSAL é a matéria elementar primitiva, cujas
modificações e transformações constituem a inumerável variedade dos
corpos da Natureza."
Allan Kardec, A Gênese
O espiritismo nos
explica que os animais não têm a consciência da existência de Deus e
que para eles os seres humanos exercem este papel, assim como para o
homem primitivo os espíritos eram Deuses. Portanto, devemos auxilia-los
no progresso, compreendendo que são parte da criação de Deus, assim como
tudo no universo. Temos o dever de tratá-los com respeito, não
impondo-lhes castigos físicos ou sofrimentos.
Lembramos mais uma
vez que os animais não necessitam passar por expiações e todo o
sofrimento infligido a eles são gerados pela ignorância do homem. Por
outro lado, devemos entender que os animais não são seres humanos e não
devem ser tratados como tal. Recordemos dos nossos irmãos que passam por
dolorosas provações no plano terreno, enfrentando dificuldades de todas
as ordens. Seria uma grande hipocrisia dispensar todo amor e atenção a
um animal e negar auxílio ao próximo.
REFERÊNCIAS
KARDEC,
Allan. A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Trad.
de Guillon Ribeiro da 5. ed. francesa. 48. ed. Rio de Janeiro: FEB,
2005.
Bíblia de Jerusalém, Nova Edição Revista e Ampliada, Ed. de 2002, 3ª Impressão (2004), Ed. Paulus, São Paulo, p 1.070
ARISTÓTELES. Da alma. Introdução, tradução do grego e notas de Carlos
Humberto GOMES. Lisboa: Edições 70, 2001. 134p. ISBN: 9724410676.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos: princípios da Doutrina Espírita.
Trad. de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
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