Conta-se que certa vez um famoso sábio da academia, aborrecido e
decepcionado com a vida agitada dos grandes centros urbanos, que muito
embora proporcione enorme felicidades em razão dos velozes meios de
transportes, dos eficientes equipamentos de comunicação, das modernas
conquistas cientificas e de outros aparatos tecnológicos cada vez mais
precisos e sofisticados, paradoxalmente está deixando o homem isolado,
estressado e diante de Deus, resolveu fazer uma excursão ao campo, em
busca da alegada sabedoria cabocla, a qual seria o resultado de uma vida
rural mais amena e saudável.
Não demorou muito e logo
ele vislumbrou um camponês vestido à caráter, com roupas rústicas,
chapéu de abas largas e sugando o indefectível cigarro de palha. Era um
dia claro de verão e céu azul, Sol a pino e o caboclo estava lavrando a
terra pacientemente, desferindo certeiros golpes com a sua enxada de
cabo longo. Certamente ele já percebera a aproximação do estranho, que
caminhava desajeitadamente na sua direção, tropeçando nos tocos de
árvores e assim denunciando a sua condição de homem da cidade, mas
fingia que nada vira.
Quando chegou mais perto, o sábio
da academia cumprimentou o roceiro , que, depois de uma demora
proposital de alguns segundos, resmungou um monossílabo à guisa de
resposta e continuou capinando. O grande sábio perguntou, de chofre:
“Será que o senhor poderia me dizer onde está Deus?”
O
Caboclo paro de capinar, levantou a aba do chapéu, passeou vagarosamente
o olhar em todas as direções, e finalmente respondeu: “Olha eu senhor,
onde está Deus eu não sei, não senhor. Mas será que o Senhor poderia me
dizer aonde é que Deus não está?!?”
Cada religião
explica Deus à sua maneira; cada teoria o descreve a seu modo. E de tudo
isso resulta uma confusão, um caos inextricável. Dessa confusão, os
ateus têm tirado argumentos para negar a existência de Deus; os
positivistas, para o declarar incognoscível. Como escapar a essas
contradições? Da mais simples maneira. Basta elevarmo-nos acima das
teorias e dos sistemas, bastante alto para as ligar em seu conjunto e
pelo que têm de comum. Basta elevarmo-nos até à grande Causa, na qual
tudo se resume e tudo se explica.
Duvidar da existência
de Deus é negar que todo efeito tem uma causa e declarar que o nada pode
fazer alguma coisa. A prova da existência de Deus, como dizem os
Espíritos Superiores, para ser encontrada em um axioma que aplicais às
vossas ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo que
não é obra do homem e a vossa razão responderá.
Vemos
constantemente uma imensidade de efeitos, cuja causa não está na
humanidade, pois que a humanidade é impotante para produzi-los, ou
sequer, para os explicar. Tais efeitos absolutamente não se produzem ao
acaso, fortuitamente e em desordem. Desde a organização do mais
pequenino inseto e da mais insignificante semente, até a lei que rege os
mundos que circulam, no Espaço, tudo atesta uma ideia diretora, ma
combinação, uma previdência, uma solicitude, que ultrapassam todas as
combinações humanas. A causa é, pois, soberanamente inteligente.
Constitui princípio elementar que pelos seus efeitos é que se
julga uma causa, mesmo quando ela se conserve oculta. Se, fendendo os
ares, um pássaro é atingido por mortífero grão de chumbo, deduz-se que
hábil atirador o alvejou, ainda que este ultimo não seja visto. Nem
sempre, pois, se faz necessário vejamos uma coisa, para sabermos que ela
existe. Em tudo observamos os efeitos é que se chega ao conhecimento
das causas.
Outro princípio igualmente elementar e que,
de tão verdadeiro, passou a axioma, é o que de todo efeito inteligente
tem que se decorrer de uma causa inteligente. Se perguntassem qual o
construtor de certo mecanismo engenhoso, que pensaríamos de quem
respondesse que ele se fez a si mesmo? Quando se contempla uma obra
prima da arte ou da indústria, diz-se que há de tê-la produzido por um
homem de gênio, porque só uma alta inteligência poderia concebê-la.
Reconhece-se, no entanto, que ela é obra de um homem, por se verificar
que não está acima da capacidade humana; mas, a ninguém acudirá a ideia
de dizer que saiu do cérebro de um idiota ou de um ignorante, menos
ainda que é trabalho de um animal ou produto do acaso.
Não podendo nenhum ser humano criar o que a natureza produz, a causa
primeira é, conseguintemente, uma inteligência superior à humanidade.
Quaisquer que sejam os prodígios que a inteligência humana tenha
operado, ela própria tem uma causa e, quanto maior for o que opere,
tanto maior há de ser a causa primária. Aquela inteligência superior é
que é a causa primária de todas as coisas, seja qual for o nome que lhe
deem.
Pois bem! Lançando o olhar em torno de si, sobre
as obras da natureza, notando a providencia, a sabedoria, a harmonia que
presidem a essas obras, reconhece o observador não haver nenhuma que
não ultrapasse os limites da mais portentosa inteligência humana. Ora,
desde que o homem não as pode produzir, é que elas são produto de uma
inteligência superior à humanidade a menos que se sustente que há efeito
sem causa.
A harmonia existente no mecanismo do
Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso
mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primaria ao
acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir efeitos
que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria mais acaso.
Deus não se mostra, mas se revela pelas suas obras.
A existência de Deus é, pois, uma realidade comprovada não
só pela revelação, como pela evidencia material dos fatos. Os povos
selvagens nenhuma revelação tiveram; entretanto, Creem instintivamente
na existência de um poder sobre-humano. Eles veem coisas que estão acima
das possibilidades do homem e deduzem que essas coisas provem de um
ente superior à humanidade. Não demonstram raciocinar com mais lógica
que os que pretendem que tais coisas se fizeram a si mesmas?
Nenhum comentário:
Postar um comentário