São chegados os tempos? Para os que em nada crêem, essas palavras
não têm qualquer legitimidade e não lhes toca a consciência. Para a
maioria dos crentes, elas apresentam qualquer coisa de místico e de
sobrenatural, prenunciadoras da subversão das leis da Natureza. Para
Kardec, as duas posições são errôneas: "a primeira, porque envolve uma
negação da Providência; a segunda, porque tais palavras não anunciam a
perturbação das leis da Natureza, mas o cumprimento dessas leis."(1)
Inteligentemente consignado no Jornal O Imortal por Astolfo Olegário "O
futuro a Deus pertence e nem mesmo Jesus se atreveu a precisá-lo. (...)
"O advento do mundo de regeneração não se dá nem se completa em pouco
tempo. Que a transição de planeta de provas e expiações para regeneração
já começou, não padece dúvida. Na Revista Espírita há inúmeras
informações que o atestam. O equívoco é datar, é precisar, é fixar uma
época em que tal processo estará concluído." (2)
A rigor, todas
as leis da Natureza são obras eternas do Criador, não de uma vontade
acidental e caprichosa, mas de uma vontade imutável. "Quando a
Humanidade está madura para subir um degrau, pode dizer-se que são
chegados os tempos marcados por Deus."(3) A Terceira Revelação não
inventa a renovação social; "a madureza da Humanidade é que fará dessa
renovação uma necessidade. Pelo seu poder moralizador, por suas
tendências progressistas, pela amplitude de suas vistas, pela
generalidade das questões que abrange, o Espiritismo é mais apto do que
qualquer outra doutrina, a secundar o movimento de regeneração; por
isso, é ele contemporâneo desse movimento."(4)
A evolução dos
mundos habitados ocorre no mesmo ritmo da dos seres que habitam em cada
um deles. Os mundos habitados, segundo o Espiritismo, podem ser
classificados como: Mundos primitivos, destinados às primeiras
encarnações do Espírito; Mundos de expiação e provas, onde domina o mal
entre os Espíritos; Mundos de regeneração, nos quais os Espíritos ainda
têm o que expiar; Mundos ditosos, onde o bem sobrepuja o mal e os Mundos
celestes ou divinos, onde exclusivamente reina o bem.
Na
condição de expiação e provas, a Terra viveu "Época de lutas amargas,
desde os primeiros anos deste século,(*) a guerra se aninhou com caráter
permanente em quase todas as regiões do planeta. A Liga das Nações, o
Tratado de Versalhes, bem como todos os pactos de segurança da paz, não
têm sido senão fenômenos da própria guerra, que somente terminarão com o
apogeu dessas lutas fratricidas, no processo de seleção final das
expressões espirituais da vida terrestre."(5). O Século XX, recentemente
findo, foi, sem dúvida, o século mais sangrento de todos. Após a
Segunda Guerra Mundial, já tivemos 160 conflitos bélicos e 40 milhões de
mortos. Se contabilizarmos desde 1914, estes números sobem para 401
guerras e 187 milhões de mortos, aproximadamente.
Apesar de
terroristas agirem em toda parte, tropas se confrontarem em muitas
regiões, a economia se descontrolar, sistemas e valores entrarem em
colapso, instituições tradicionais como a Igreja e a Família serem
violentamente abaladas, teóricos pregarem o fim da História, não faltam
as vozes otimistas que apregoam um porvir renovado sob a luz de uma nova
era.
Não há como se desconhecer a violência que assola a
Humanidade terrestre. Ela está presente no trânsito, destruindo vidas e
mutilando corpos; na prostituição infanto-juvenil, sob o assédio dos
malfeitores; na polícia, subvertendo suas obrigações patrióticas de
proteger e auxiliar o povo, por interesses pessoais e mesquinhos; nas
drogas, levando os jovens à dependência dessas substâncias alucinógenas;
nas religiões, onde fanáticos insanos lutam e se aniquilam, disputando
qual o "deus" mais forte e mais poderoso; no lar, pela intolerância dos
pais para com os filhos e vice-versa, dispensando o diálogo fraterno,
que, se houvesse, faria de suas vidas uma tranqüila experiência de
coabitar com amor.
Percebemos que há um grande número de pessoas
aderindo às sugestões do mal, por simples ignorância. Estas, serão
renovadas no desdobramento de suas experiências, particularmente com a
magna dor, em reencarnações regeneradoras. O problema maior está com
aqueles em que o mal predomina nas entranhas de seus corações, o que
constitui uma minoria. Estes, pela lei da seleção natural dos valores
morais, serão expurgados do nosso convívio, assim que houver chegado a
hora.
Temos a impressão de que os atos violentos, praticados por
mentes insanas, banalizam-se no curso do tempo, mas, apesar de essa
violência sufocar, confundir, assustar e cercear o homem na sua
liberdade de ir e vir, nunca se assistiu, em todos os tempos, tantas
pessoas boas e pacíficas, mobilizarem-se em prol de programas
assistenciais aos irmãos menos afortunados, trabalhando voluntariamente
por um mundo melhor e mais justo e com total desprendimento e espírito
cristão.
É claro que não podemos desconsiderar os perigos reais
que nos cercam: desastres nucleares; o buraco na camada de ozônio; o
desmatamento desordenado de nossas florestas; a poluição das nossas
límpidas águas, etc., mas se olharmos o momento em que vivemos sob a
ótica da revelação espírita, teremos motivos suficientes para crer que o
desespero e desesperança, conseqüentes do pessimismo que prevalece
atualmente entre os homens, precisam ser substituídos pela ação eficaz.
A Terra está entrando em uma fase de transição para Mundo de
regeneração, obedecendo às leis naturais de evolução. Mensagens da
espiritualidade que nos vêm sendo transmitidas no movimento espírita,
desde o final do Século XX, têm confirmado tal fato, e o homem não há
como vetar os Decretos de Deus.
Percebe-se que, atualmente, tudo
está se transformando muito rapidamente, trazendo mais conforto e melhor
qualidade de vida ao habitante da Terra. A dor física está,
relativamente, sob controle; a longevidade ampliada; a automação da vida
material está cada vez maior, em face da tecnologia fascinante,
especialmente na área da comunicação e informática. Quando poderíamos
imaginar, por exemplo, há 50 anos, o potencial da Internet?
Já no
Século XIX, Kardec asseverava que: "A Humanidade tem realizado, até o
presente, incontestáveis progressos. Os homens, com a sua inteligência,
chegaram a resultados que jamais haviam alcançado, sob o ponto de vista
das ciências, das artes e do bem-estar material."(6)
Neste Século
XXI, o Planeta passa por um processo acelerado de transformação. É com
muito otimismo que percebemos, no tecido social contemporâneo, a
gestação de vários investimentos, envolvendo cientistas, filósofos,
religiosos e educadores que se inclinam para a formulação de um mundo
renovado. Busca-se um novo conceito do homem e um novo ideal de
sociedade, alicerçados em paradigmas revolucionários da Nova Física.
Se atentarmos apenas para a Informática e para a Medicina, enquanto
fatores de progresso humanos a benefício de toda a Humanidade,
perceberemos que Deus autorizou aos Espíritos Protetores fazerem
aportar, na Terra, os admiráveis avanços científicos que alcançamos.
"O Espiritismo, na sua missão de Consolador, é o amparo do mundo neste
século de declives da sua História; só ele pode, na sua feição de
Cristianismo redivivo, salvar as religiões que se apagam entre os
choques da força e da ambição, do egoísmo e do domínio, apontando ao
homem os seus verdadeiros caminhos. No seu manancial de esclarecimentos,
poder-se-á beber a linfa cristalina das verdades consoladoras do Céu,
preparando-se as almas para a nova era."(7)
A transição de uma
categoria de mundo, para outra, não se processa sem abalos, pois toda
mudança gera conflitos. Há um momento em que o antigo e o novo se
confrontam, estabelecendo a desordem e uma aparência de caos. "(...) a
vulgarização universal do Espiritismo dará em resultado,
necessariamente, uma elevação sensível do nível moral da atualidade."(8)
Fugindo-se da paranóia de datação do advento do Mundo de
Regeneração, se quisermos atuar verdadeiramente, auxiliando o advento de
um mundo melhor, tratemos de trabalhar incansavelmente pela divulgação
das idéias espíritas, corrigindo as distorções (facilmente observadas)
no rumo do movimento que abraçamos, a fim de que os condicionamentos
adquiridos em outros arraiais religiosos não venham a contaminar nossa
ação, pela também intromissão de atitudes dogmáticas e intolerantes.
"Não é possível esperar a chegada do mundo de regeneração de braços
cruzados. Até porque, sem os devidos méritos evolutivos, boa parte de
nós deverá retornar a esse mundo pelas portas da reencarnação. Se ainda
quisermos encontrar aqui estoques razoáveis de água doce, ar puro, terra
fértil, menos lixo e um clima estável - se os flagelos previstos pela
queima crescente de petróleo, gás e carvão que agravam o efeito estufa -
deveremos agir agora, sem perda de tempo."(9)
Para habitarmos um
mundo regenerado, mister se faz que o mereçamos. Para tanto, urge que
pratiquemos a caridade, não restrita apenas à esmola, mas que abranja
todas as relações com os nossos semelhantes. Assim, perceberemos que a
caridade é um ato de relação (doação total) para com os nossos
semelhantes. Desta forma, estaremos atendendo ao chamamento do Cristo,
quando disse: "Amarás o senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua
alma e de todo o teu espírito; este é o maior e o primeiro mandamento. E
aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás ao teu próximo como a
ti mesmo. - Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois
mandamentos."(10)
Jorge Hessen
(*) Emmanuel faz referência ao Século XX
FONTES
(1) Kardec, Allan. A Gênese, RJ: Ed FEB, 2004, Sinais dos Tempos - 4ª pte.(itens 21 a 26) (Estudo 131 e 132)
(2) Cf. Jornal o Imortal publicado em outubro de 2006
(3) ______ Allan. A Gênese, RJ: Ed FEB, 2004, Sinais dos Tempos - 4ª pte.(itens 21 a 26) (Estudo 131 e 132)
(4) Idem
(5) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, RJ: Ed FEB 1987
(6) Kardec, Allan. A Gênese, RJ: Ed FEB, 2004, cap XVII, item 5
(7) Xavier, Francisco Cândido. A Caminho da Luz, RJ: Ed FEB 1987
(8) Kardec, Allan. Obras Póstumas, 26ª Ed RJ, FEB 1978. As Aristocracias
(9) Matéria publicada no Boletim SEI - Serviço Espírita de Informações 30/04/05
(10) Cf. Mateus, 22, 34-40
Nenhum comentário:
Postar um comentário