O fenômeno de desdobramento espiritual, denominado também
"experiência fora do corpo" ou "projeção do eu" e que Allan Kardec
reconhecia com o nome de "Sonambulismo", é uma condição relativamente
freqüente e que tem sido muito estudada nos dias de hoje.
A
quantidade de obras e artigos não espíritas ou mesmo espíritas já
publicadas sobre o tema é imensa. Seu número cresce dia a dia, pois é um
assunto de magna importância e que tem indiscutível implicação na
questão da sobrevivência após a morte.
O médium sonambúlico (de desdobramento), segundo Kardec, é aquele "que vive por antecipação a vida dos Espíritos".
Ele desfruta da capacidade de desprender-se do seu corpo físico,
deixando-o num estado de sonolência, e desloca-se no espaço apenas com
seu perispírito.
Durante o desdobramento, o Espírito pode sair
para longe de seu corpo e visitar locais distantes, conhecidos ou não.
Estes locais poderão encontrar-se em nosso plano físico ou nas esferas
espirituais. Podem, também, entrar em contato com outros Espíritos,
visitar enfermos, assistir Espíritos perturbados, etc.
A
faculdade sonambúlica, lembra Kardec "é uma faculdade que depende do
organismo e nada tem a ver com a elevação, o adiantamento e a condição
moral do sujeito."
No entanto, os esforços que o medianeiro
empreende em sua melhoria pessoal deverão ser responsáveis pelo tipo de
atividade que irá desenvolver em "suas viagens".
Com relação ao
grau de consciência, os médiuns de desdobramento podem ser
classificados em três tipos: conscientes, semi-conscientes e
inconscientes. Os primeiros lembram-se perfeitamente de tudo o que
realizaram durante o desdobramento, os segundos têm uma recordação
relativa, mas os terceiros nada recordam.
O desdobramento pode
ser ainda: natural ou provocado (magnético). No primeiro caso, o médium
afasta-se de seu corpo sem que seja necessária a atuação de uma outra
pessoa. Pode verificar-se em função de uma enfermidade, do sono, prece
ou meditação.
O desdobramento magnético ou provocado é aquele
produzido pela ação fluídico-magnética de outra pessoa, encarnada ou
desencarnada.
Os médiuns adestrados são muitas vezes afastados de
seu corpo por seus mentores espirituais, durante o sono físico e
levados para reuniões de estudo e trabalho no mundo espiritual. Pode
acontecer também, que o desdobramento seja provocado por Espíritos
viciosos, que desejam envolver o medianeiro em atitudes infelizes,
promovendo, muitas vezes, processos obsessivos graves.
Allan Kardec
dá o nome de "êxtase" a um tipo de desdobramento mais apurado, onde a
alma do médium tem maior grau de independência e pode deslocar-se para
locais muitos distantes.
CATALEPSIA E LETARGIA
A
catalepsia e a letargia derivam do mesmo princípio, que é a perda
temporária da sensibilidade e do movimento do corpo físico, diante de um
estado de emancipação profunda da alma (desdobramento).
Não são
enfermidades físicas, mas uma faculdade que, como qualquer outra
faculdade mediúnica insipiente ou incompreendida, ou ainda descurada e
mal orientada, torna-se prejudicial ao seu possuidor.
Caracteriza-se
a catalepsia pela suspensão parcial ou total da sensibilidade e dos
movimentos voluntários, acompanhada de extrema rigidez dos músculos,
acarretando a conservação passiva das atitudes dadas aos membros, ao
tronco ou à face. Assim, se lhe for erguido um braço, nesta posição
ficará indefinidamente. Nesse estado, os olhos permanecem grandemente
abertos, fixos, com semblante imobilizado, apresentando o paciente uma
fisionomia impassível, sem emoção e sem fadiga.
A catalepsia pode
ocorrer naturalmente, sem uma causa aparente, ou pode ser provocada
(hipnotismo ou obsessão). Neste último estado, embora o paciente não
possa ter atividade alguma voluntária, age, no entanto, sob a sugestão
do operador.
A letargia é uma apresentação mais profunda que a
catalepsia. O letárgico nada ouve, nada sente, não vê o mundo exterior, a
própria consciência se lhe apaga, fica num estado que se assemelha à
morte.
O paciente jaz imóvel, os membros pendentes, moles e
flácidos, sem rigidez alguma e, se erguidos, quando novamente soltos
recaem pesadamente; sua respiração e o pulso são quase imperceptíveis,
as pupilas mais ou menos dilatadas, não reagem mais à luz; o sensório
está totalmente adormecido e a inércia da mente parece absoluta. É
exatamente dentro da letargia que se incluem os casos de mortes
aparentes registradas no Novo Testamento (ressurreição de Lázaro, da
filha de Jairo e do filho da viúva de Naim).
Entre os casos que
constituem exemplos clássicos de letargia cita-se o do Cardeal de
Donnet, que quase foi enterrado vivo em virtude de estado letárgico que
nele se manifestou, conforme relata José Lapponi [Hipnotismo e
Espiritismo]:
"Em 1826 um jovem padre, quando pregava no púlpito
de uma igreja, cheia de devotos, foi imprevistamente acometido de um
desmaio. Um médico o declarou
morto e deu licença para as horas
fúnebres no dia imediato. O bispo da catedral, onde se verificara o
caso, já tinha recitado as últimas orações ao pé do morto, já haviam
sido tomadas as medidas do ataúde e se aproximava a noite, no começo da
qual se devia consumar o enterramento. São fáceis de imaginar as
angústias do jovem padre, que, estando vivo, recebia nos ouvidos os
rumores de todos esses preparativos. Afinal, ouviu a voz comovida de um
seu amigo de infância, e essa voz, provocando nele uma crise sobre
humana, produziu maravilhoso resultado. No dia seguinte, o jovem padre
voltava ao seu púlpito.
"
Vejamos agora o que disseram os
Espíritos, respondendo às perguntas formuladas por Allan Kardec sobre
esse interessante assunto:
"Os letárgicos e os catalépticos, em
geral, vêem e ouvem o que em derredor se diz e faz, sem que possam
exprimir o que estão vendo ou ouvindo. É pelos olhos e pelos ouvido que
têm essas percepções?
R. Não. É pelo Espírito. O Espírito tem consciência de si, mas não pode comunicar-se." [LE-qst 422]
"Na letargia pode o Espírito separar-se inteiramente do corpo, de modo a
imprimir-lhe todas as aparências da morte e voltar a habitá-lo?
R.
Na letargia o corpo não está morto, porquanto há funções que continuam a
executar-se. Sua vitalidade se encontra em estado latente, porém, não
aniquilada. Ora, enquanto o corpo vive, o Espírito se lhe acha ligado,.
Em se rompendo, por efeito da morte real e pela desagregação dos
órgãos, os laços que prendem um ao outro. integral se torna a separação e
o Espírito não volta mais ao seu envoltório. Desde que um homem,
aparentemente morto, volve à vida, é que não era completa a morte."
[LE-423]
Sendo a catalepsia e a letargia uma faculdade, patrimônio
psíquico da criatura e não propriamente uma enfermidade,
compreender-se-á que nem sempre a sua ação comprova inferioridade do seu
possuidor, pois que uma vez adestrados, ambos poderão prestar
excelentes serviços à causa do bem, tais como as demais faculdades
mediúnicas que, não adestradas, servem de pasto a terríveis obsessões.
Um Espírito encarnado, por exemplo, já evoluído, ou apenas de boa
vontade, poderá cair em transe letárgico ou cataléptico
voluntariamente, alçar-se ao espaço para desfrutar o convívio dos
amigos espirituais, dedicar-se a estudos profundos, colaborar com o bem
e depois retornar à carne, reanimado e apto a excelentes realizações.
Fonte: CVDEE – Estudos sobre Mediunidade
Bibliografia
1) Livro dos Espíritos - Allan Kardec
2) Magnetismo Espiritual - Michaelus
3) Hipnotismo e Espiritismo - José Lapponi
4) Recordações da Mediunidade - Yvonne A. Pereira
5) Diversidades dos Carismas - Hermínio C. Miranda
6) Nos Domínios da Mediunidade- André Luiz/Chico Xavier
De Renata Mendes Fonseca
— com Lari Saba.
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