É evidente que o termo espírita só é aquele preconizado por Kardec,
sem hibridezes. Entretanto, as palavras “ kardecista" e / ou
"kardecismo" seriam de uso censuráveis? Talvez sejam impróprias a
utilização dessas palavras, no entanto jamais serão impróprias. Além
disso, entendemos que há algumas ponderações plausíveis a serem
expostas com relação ao assunto.
Primeiramente recorramos ao Novo
Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa [1] , nele encontraremos as
definições: kardecismo - Doutrina religiosa de Allan Kardec; kardecista -
pertencente ou relativo a Allan Kardec ou ao kardecismo - adepto do
kardecismo. A Enciclopédia Universal define o seguinte: kardecismo -
Doutrina de Allan Kardec, espiritismo - kardecista - aquele que adota
as doutrinas de Allan Kardec - Relativo a kardecismo. [2]Estamos aqui
fazendo referência a duas consagradíssimas fontes do saber.
Dizem
que existe uma guimba de preconceitos a substituição dos termos
espírita e Espiritismo pelos termos "kardecista" e "kardecismo" ,
visando que suas crenças não sejam confundidas com aquelas que, para
tais, são "inferiores", portanto não querem ser identificados como
feiticeiros ou macumbeiros. Mas vale aqui uma ponderação. Em quase
todos os lugares que se pratica o mediunismo, alcunha-se de “espírita”.
Vejamos, existem instituições nomeadas como "centro ‘espírita’ caboclo
beltrano", "tenda ‘espírita’ pai sicrano", "cabana ‘espírita’ vovô
fulano", "centro ‘espírita’ tenda fraterna", "centro ‘espírita’ de
umbanda cobra coral", "centro ‘espírita’ pai Joaquim” etc. Em tais
instituições não há qualquer orientação espírita , portanto,
precisariam substituir o nome ‘espírita’ por espiritualista.
Apesar das apropriações indébitas do termo ‘espírita’, conquanto sem
cumplicidade, pois cada coisa deve estar em seu devido lugar. Os
espíritas, respeitamos todas as seitas, cultos, religiões, valorizamos
todos os esforços para a prática do bem, trabalhamos pela
confraternização entre todos os homens, independentemente, de raça, cor,
nacionalidade, crença ou nível cultural e social, e reconhecemos que,
segundo Kardec, "o verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de
justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza".[3]
Se o
Espiritismo rejeita quaisquer cultos externos, é óbvio que não pode ser
considerado espírita quem exercita cultos em “terreiros”, quem é adepto
de magia “branca” ou “negra”, quem adota idolatria, conquanto se
consideram espiritualistas. Com as lições de Allan Kardec, cuja
literatura não poderá deixar de ser fonte básica do Espiritismo, devemos
asseverar que o conceito ou o nome de espírita não podem ser aplicados
aos seguidores de qualquer seita ou prática espiritualista, porém
tão-somente aos estudiosos e praticantes que abarcaram a Doutrina dos
Espíritos e por lógica já não se vinculam mais ao ritualismo nem aos
preceitos e dogmas que estreitam a inteligência, petrificam a fé e
fragmentam o bom senso.
É por essas e outras que o emblemático
sincretismo religioso brasileiro tem remetido as pessoas a confundirem
Espiritismo com ocultismo, esoterismo, teosofia, orientalismo,
umbandismo, xamanismo, exorcismo, exoterismo, ubaldismo, ramatisismo e
demais mistismos iguais ao roustanguismo febiano e outros análogos, em
face disso é perfeitamente compreensível a defesa de alguns confrades
para o uso do célebre: "sou kardecista" para se harmonizarem de forma
racional às circunstâncias cabíveis.
Kardecismo ? Anos atrás,
jamais admitiria essa hipótese, pois Espiritismo só existe UM. No
entanto, e embora consciente de que o Espiritismo não foi obra de um
homem, mas dos Espíritos Superiores, e que o mestre lionês, por isso
mesmo, foi, apenas, o instrumento de que a espiritualidade maior se
serviu para transmitir novas diretrizes de amor e paz à Humanidade, nada
obsta que cheguemos ao fato concreto de que o sufixo "ismo", em seu
pseudônimo, seja disseminado para designar o movimento religioso
(Espiritismo) por ele codificado, ou seja, o termo Kardecismo
distinguiria a doutrina por si só.
Como exemplo dessa ordem,
podemos citar o Darwinismo, Platonismo, Socratismo, Luteralismo,
Calvinismo etc., e quem nos garante que os métodos desses grandes vultos
da História tenham sido particularíssimos, isto é, sem a inspiração de
Espíritos Superiores? É óbvio que foram inspirados. Portanto, nada mais
justo, oportuno e conveniente que estudemos essa possibilidade,
"também", pois os espíritos superiores, por serem Superiores,
representam a permanente tranquilidade interna ante as atitudes que
promovam e dignifiquem o legítimo pensamento espírita.
Urge que
se faça a distinção, pois não podemos admitir que a Doutrina Espírita
caminhe com luzes na essência e obscurantismo na sua difusão e aplicação
prática. É um fato real e digno de nossa atenção. Naturalmente a nossa
presunção no texto não é modificar coisa alguma, mesmo porque, não
detemos poder para tanto, porém reafirmamos (sem o fantasma da culpa)
que o uso das expressões Kardecismo ou Kardecista não constitui um
atentado contra a Doutrina dos Espíritos, por isso mesmo não deve ser
motivo de censuras, análises severas ou indignação, pois esses vocábulos
estão, perfeita e intrinsecamente, associados ao termo Espiritismo.
Jorge Hessen
Referências bibliográficas:
[1] Ferreira, Aurelio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, SP: Ed Positivo, 2010
[2] Enciclopédia Universal. São Paulo: Editora Pedagógica Brasileira LTDA, 1969
[3] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XVII, Item 3, RJ: Ed. FEB, 2001
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