Antonio Cesar Perri de Carvalho
Na monumental obra Paulo e
Estêvão, psicografada por Francisco Cândido Xavier, o autor espiritual
Emmanuel aprofunda os registros de Atos e das Epístolas de Paulo
detalhando as lutas e humilhações do doutor Saulo de Tarso, autoridade
na Lei Moisaica perante seu povo.
Paulo renunciou às suas
prerrogativas de doutor da Lei ao iniciar seu processo de transformação
no Apóstolo do Cristo e foi submetido pelos seus antigos pares e até por
seguidores do Cristo, a constrangimentos e dificuldades acerbas.
As posições de Paulo eram claras e continuadamente registrava em suas
Epístolas a sua não aceitação da Lei de Moisés e de se antepor aos
chamados legalistas. O ex doutor da Lei se insurgia contra as regras e
normas típicas de sua antiga religião tradicional. (1)
Emmanuel
explicita o impacto sofrido pelo ex doutor da Lei ao retornar à Casa do
Caminho: “[...] torturado pela influência judaizante. Tiago dava a
impressão de reingresso, na maioria dos ouvintes, nos regulamentos
farisaicos. Suas preleções fugiam ao padrão de liberdade e do amor em
Jesus Cristo.” (2)
O acadêmico e pároco anglicano Wright é autor
de profundos estudos sobre Paulo e opina que a ação do Apóstolo tem “uma
dimensão política, entrelaçada num tecido único da teologia e de sua
vida”, porém destaca que a história vivida e narrada por Paulo “é uma
história de amor e não de poder.” Wright pondera que, na atualidade,
Paulo “pode muito bem vir a ser outra vez uma questão não tanto de
compreensão, mas de coragem.” (3)
Na literatura espírita, há
registros notáveis de Herculano Pires sobre o apóstolo Paulo e que estão
relacionadas com as análises do espírito Emmanuel e do pesquisador
Wright. Notadamente relacionados com os dilemas e a transição na
complexidade vivida por Paulo, imerso em três contextos, ou seja, a
tradição do judaísmo, a cultura grega e o domínio e a legislação romana:
“Paulo, que exemplifica o drama da transição da consciência judaica
para a cristã, adverte que Deus não deseja cultos externos, semelhantes
aos dedicados às divindades pagãs, mas "um culto racional", em que o
sacrifício não será mais de plantas ou animais, mas da animalidade, ou
seja, do ego inferior do homem.” (4)
"Ele libertava a religião
da política e do negócio. Para ele, a religião tinha que ser vivida em
si mesma e vivida com toda a independência moral". (5)
A
propósito de trecho de Atos sobre “muitos milagres e prodígios entre o
povo pelas mãos dos apóstolos”, Herculano Pires aponta que ali se
encontra "uma das mais belas confirmações evangélicas da realidade e da
verdade do Espiritismo e das suas práticas como continuação do
cristianismo em espírito e verdade aqui na terra." (5)
Entendemos
que o exemplo de vida e as difíceis opções de Paulo rumo ao “alvo” –
“Prossigo para o alvo...” (Filipenses, 3.14), e as Epístolas de Paulo,
abstraindo-se algumas discussões do contexto da época, devem merecer o
estudo dos espíritas.
Destacamos que na chamada série “Fonte
Viva” e demais livros em que Emmanuel comenta versículos do Novo
Testamento, de um total de cerca de 1.300 capítulos, mais de um terço
dos capítulos se referem a citações de Paulo.
Bibliografia:
1) Carvalho, Antonio Cesar Perri. Epístolas de Paulo à luz do espiritismo. 1. ed. Matão: O Clarim. 2016.
2) Xavier, Francisco Cândido. Pelo espírito Emmanuel. Paulo e Estêvão. Ed.esp. 2a Parte, Cap. 3. Brasília: FEB. 2012.
3) Wright, Nicolas Thomas. Trad. Soares, Joshua de Bragança. Paulo. Novas perspectivas. São Paulo: Edições Loyola, 2009.
4) Pires, José Herculano. O espírito e o tempo. 1ª parte, Cap.II. São Paulo: Ed. Pensamento. 1964.
5) Pires, José Herculano. Org. Arribas, Célia. O evangelho de
Jesus em espírito e verdade. 1.ed. Cap. 15. São Paulo: Editora Paidéia.
2016.
(Ex-presidente da USE-SP e da FEB)
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