"O que difere uma figura mitológica de uma personalidade histórica?"
Frequentemente me deparo com o questionamento de alguns leitores acerca
da existência de Jesus. "Não há registros concretos que comprovem a
passagem do Nazareno na Terra", eles alegam. Para alguns, Cristo não
seria uma personalidade histórica, mas sim uma figura mitológica criada
em algum momento no passado.
O assunto é capaz de instigar
discussões acaloradas e merece um estudo aprofundado, haja visto que
tais questionamentos desafiam quase um terço da população mundial (2
bilhões de cristãos) e também, a história da humanidade.
O Surgimento do Cristo Mitológico
Jesus nunca foi uma unanimidade e este fato não é novidade para
ninguém. Desde o início de suas pregações Ele encontrou ferrenhos
oponentes. Na medida em que seu ministério crescia, as investidas dos
antagonistas se tornavam cada vez mais violentas, resultando em sua
prisão e crucificação.
Mesmo após o padecimento de Jesus no
calvário, a perseguição aos cristãos continuou, mas nem sempre de forma
violenta. Algumas centenas de cristãos foram martirizados nos circos
romanos, outros, ridicularizados pelos intelectuais que tentavam
dissuadir o cristianismo. Os mais esclarecidos disseminaram a ideia de
que Jesus foi uma figura mitológica, ou seja, nunca existiu. Mas apesar
dos esforços contrários, o movimento cristão resistiu e se perpetuou.
Quase dois milênios haviam se passado e por volta do ano de 1790, na
era do Iluminismo francês, pensadores como Constantin François Volney e
Charles François Dupuis, ressuscitaram a ideia de que Jesus havia sido
criado. Essas opiniões ficaram conhecidas como o "Mito de Cristo" ou
"Jesus Mítico" (inexistência da figura de Jesus).
O iluminismo
foi um movimento cultural racionalista criado com o intuito de reformar o
conhecimento herdado da tradição medieval. Esse conhecimento, até
então, era ditado pela imperiosa Igreja romana, daí o surgimento da
teoria do Mito de Cristo. Era uma forma de confrontar a razão e a fé.
Jesus Mítico não se propagou como apostavam os iluministas, a
religiosidade da grande massa era maior. Apesar de não ganhar força, a
teoria polêmica ainda é levantada por céticos na era moderna. Em 2002, o
italiano Luigi Cascioli processou a Igreja por acreditar que aquela
instituição alimentava a mentira da existência de Jesus. A ação judicial
após percorrer todas as instâncias foi arquivada por falta de provas.
Confrontando as ideias anticristãs
A primeira argumentação de um cético é a de que não há provas concretas
da vida do Nazareno. "Jesus não deixou escrito sequer uma frase, não há
vestígios arqueológicos e documentais que comprovem sua vida e seu
apostolado", contestam.
Se analisarmos a questão por esse prisma,
veremos que Sócrates, por exemplo, também não documentou suas ideias,
mas nem por isso deixou de ser um dos maiores e mais conhecidos
filósofos da antiguidade, pois seus pensamentos foram anotados e
difundidos por seus discípulos, dentre eles, Platão.
Exatamente como aconteceu com Jesus e seus apóstolos.
Vejamos outros questionamentos levantados pelos não cristãos:
1) Relatos Bíblicos: Os mais religiosos rebateriam as críticas
relacionadas a Jesus referenciando o Novo Testamento, entretanto, para
os opositores do Nazareno, a Bíblia não é um registro histórico
aceitável. A justificativa seria que os quatro evangelhos canônicos
teriam sido formulados muito depois da crucificação do Salvador. Além
disso, dois dos evangelistas (Lucas e Marcos), sequer conheceram o
Carpinteiro de Nazaré, portanto, suas escrituras são baseadas em relatos
de terceiros. Outro aspecto relevante do ponto de vista anticristão é
de que os pergaminhos originais foram editados diversas vezes pela
igreja até chegar ao formato atual, além de terem sido copiados e
traduzidos para outros idiomas, o que pode adulterar significativamente a
essência dos textos.
De fato existem contradições entre os
evangelhos do Novo Testamento, todavia a existência de Jesus é uma
unanimidade entre eles, inclusive nos evangelhos apócrifos (que não
estão na Bíblia). Boa parte dos estudiosos acreditam que menos de 20 por
cento do que lemos nos evangelhos são os dizeres originais do Messias.
Nem mesmo os pesquisadores mais incrédulos refutam a ideia do "Filho de
Deus" ser um personagem histórico.
2) Conspiração Romana: Para
alguns teólogos, a criação da história de Jesus teria sido uma
estratégia política dos romanos para pacificar os ataques violentos dos
judeus que viviam na Palestina da época. Esta argumentação é
contraditória, pois a sociedade romana era politeísta e socialmente
segregada. A personalidade Nazarena (que defendia um único Deus
misericordioso e a igualdade entre os homens) diverge das convicções
religiosas e sociais daquela civilização. Os Deuses da mitologia romana
eram temperamentais e um patrício jamais aceitaria ser comparado a um
escravo.
3) A construção do mito pelos cristãos primitivos: Outro
argumento levantado é que o Mito Jesus fora criado pelos cristãos
pioneiros. Seria possível um grupo de modestos trabalhadores idealizar
uma personalidade grandiosa como Jesus? E como um mito poderia ter
atravessado períodos históricos sem ser esquecido? É improvável que
grande parte da humanidade viveria todo esse tempo acreditando em uma
figura alegórica. Se Jesus não existiu, deve-se imaginar como um mito
poderia alterar tanto a história da humanidade.
Evidências históricas sobre Jesus
Antes de mais nada é necessário responder a seguinte indagação: O que
difere uma figura mitológica de uma personalidade histórica?
Para os
historiadores comprovarem a existência de um personagem histórico é
necessário buscar três razões primárias: documentos de historiadores
antigos, impacto histórico e outras evidências históricas e
arqueológicas. Convenhamos, essas lacunas são inteiramente preenchidas
por Cristo.
Documentos de Historiadores: O primeiro documento
histórico que apresentaremos é intitulado "Antiguidades Judaicas", do
ano 93 d.C, de autoria do historiador Flávio Josefo, nascido poucos anos
após a crucificação de Jesus:
“Naquele tempo viveu Jesus, um
homem santo, se ele pode ser chamado de homem, pois realizou trabalhos
poderosos, ensinou os homens, e recebeu com prazer a verdade. E ele foi
seguido por muitos judeus e muitos gregos [...]"
(Flávio Josefo - Antiguidades Judáicas)
Para os historiadores modernos, Flávio Josefo é considerado uma
importante referência sobre a história de Jesus por ser um estudioso
considerado imparcial, ou seja, não pertenceu ao movimento cristão, o
que evidencia a existência do Cristo histórico.
Outro historiador
referenciado é o romano Gaio Suetônio Tranquilo. Este também possui
grande credibilidade em função de suas biografias sobre os doze
Imperadores Romanos, de Júlio César a Domiciano. A obra denominada De
Vita Caesarum, escrita provavelmente durante o período de Adriano faz
menção sobre os cristãos:
"Nero infligiu castigo aos cristãos, um grupo de pessoas dadas a uma superstição nova e maléfica".
(Gaio Sutônio - De Vita Caesarum)
Por último e não menos importante, vamos encontrar Cornélio Tácito,
nascido 25 anos antes da crucificação de Jesus e que também cita o
enviado de Deus em seu último trabalho histórico de nome "Anais":
"Christus, o que deu origem ao nome cristão, foi condenado à extrema
punição [i.e crucificação] por Pôncio Pilatos, durante o reinado de
Tibério; mas, reprimida por algum tempo, a superstição perniciosa
irrompeu novamente, não apenas em toda a Judéia, onde o problema teve
início, mas também em toda a cidade de Roma."
(Cornélio Tácito - Anais)
Além desses historiadores mencionados existe a confirmação de pelo
menos 19 escritores seculares antigos que fizeram referência a Jesus
como uma pessoa real. As fontes que aludem o Messias são inúmeras,
existem mais livros sobre Ele do que qualquer outra personalidade
histórica, o que seria impossível para uma figura mitológica.
Impacto Histórico: É evidente o impacto que a personalidade Nazarena
causou na história da humanidade. Poderíamos enumerar uma centena deles,
a começar pelo calendário ocidental que é contado a partir de seu
nascimento na Terra. Nosso tempo é dividido em antes de Cristo (a.C) e
depois de Cristo (d.C), este fato por si só dispensa explicações.
Outras evidências: Vários especialistas em história (e que não se comunicam entre si) utilizam-se das
mesmas fontes para afirmar que Jesus é uma figura real. Os estudiosos
defendem que o Messias fora, na pior das hipóteses, um pregador judeu da
Galiléia. Entre os mais descrentes, Ele era visto como um curandeiro
carismático, um filósofo, ou um reformista igualitário. Esses argumentos
convergem com as ideias de religiões não cristãs, dentre elas o
judaísmo, principal religião na época de Jesus.
A corrente
dominante do judaísmo rejeita a proposta de Jesus ser o Messias por não
ter nem realizado as profecias messiânicas do "Tanach", nem apresentar
as qualificações pessoais do Messias, o que não contradiz sua
existência. Os judeus reconhecem em Jesus um bom judeu, que transmitiu
os ensinamentos religiosos, éticos e morais que recebeu do Judaísmo.
Outra doutrina religiosa importante na região da peregrinação do Cristo
é o islamismo. O Islã considera Jesus um mensageiro de Deus e o Messias
enviado para guiar as tribos de Israel através de novas escrituras, o
Evangelho. A crença no Nazareno, e em todos os outros mensageiros de
Deus, faz parte dos requisitos para ser um muçulmano. O Alcorão menciona
o nome de Jesus vinte e cinco vezes, mais do que o próprio Maomé e
enfatiza que Jesus foi também um ser humano mortal que, tal como todos
os outros profetas, foi escolhido de forma divina para divulgar a
mensagem de Deus.
A ampla documentação da vida de Jesus por
escritores da época, seu profundo impacto histórico e a evidência
tangível e confirmadora da história persuadiram os estudiosos de que
Jesus de fato existiu.
Jesus para o espiritismo
Inúmeras
obras espíritas descrevem a vida de Cristo e seu extraordinário legado, a
começar pelos livros da codificação. As referências partem da própria
espiritualidade:
625. Qual o tipo mais perfeito que Deus tem oferecido ao homem, para lhe servir de guia e modelo?
Vede Jesus. Para o homem, Jesus constitui o tipo da perfeição moral a
que a Humanidade pode aspirar na Terra. Deus no-lo oferece como o mais
perfeito modelo e a doutrina que ensinou é a expressão mais pura da lei
do Senhor, porque, sendo ele o mais puro de quantos têm aparecido na
Terra, o Espírito Divino o animava.
(Allan Kardec - O Livro dos Espíritos)
Para a Doutrina Espírita, Jesus é o modelo e guia, o espírito mais
evoluído que o Criador enviou a Terra para servir de referência aos
homens ainda imperfeitos, como demonstrado no trecho acima, retirado da
obra base do espiritismo.
Outro opúsculo que destaca a
existência de Jesus como figura histórica, surgiu através da psicografia
do médium brasileiro Chico Xavier. O livro "Há Dois Mil Anos", do autor
espiritual Emmanuel, retrata a história de uma de suas reencarnações,
quando viveu como senador romano nos tempos de Jesus. Publius Lentulus
Cornelius é o autor da famosa carta endereçada a César descrevendo a
figura de Jesus. Talvez esta seja a única referência documentada da
fisionomia de Cristo. (clique aqui para ver a carta)
Emmanuel
ainda oferece ao mundo, mais um livro rico em detalhes históricos a
respeito de Jesus. "Paulo e Estevão" é uma narrativa da vida de Saulo de
Tarso, um juiz do sinédrio que perseguia e condenava os cristãos e que
após uma visão de Jesus as portas da cidade de Damasco converteu-se a
doutrina do Cristo, mudando o nome para Paulo de Tarso, e se tonou um
dos maiores apóstolos do cristianismo.
Paulo, após a sua
conversão, desenvolveu um trabalho extraordinário, levando a palavra de
Jesus para as comunidades que ainda não conheciam o Mestre. Fundou
igrejas e escreveu suas famosas epístolas. Alguns historiadores defendem
que suas cartas foram os primeiros registros elaborados referenciando a
vida do Carpinteiro de Nazaré.
O convertido de Damasco não
conheceu Jesus pessoalmente, mas se tornou muito próximo de Simão Pedro e
outros apóstolos que forneceram anotações e dados importantes sobre
Ele. Pelo menos seis das treze epístolas atribuídas a Paulo tiveram sua
autenticidade comprovada pelos historiadores, o que remete a veracidade
de um Jesus Histórico.
Para o espiritismo não há dúvidas de que
Jesus foi uma personalidade real, que passou pela Terra para demonstrar,
com seus exemplos, o caminho para o progresso moral. As opiniões
contrárias constituem as diferenças da individualidade de cada
espírito, cedo ou tarde os incrédulos reconhecerão sua importância, como
Emmanuel reconheceu:
[...] encontras, hoje, um ponto de referência para a regeneração de toda a tua
vida. Está, porém, no teu querer o aproveitá-lo agora, ou daqui a alguns
milênios.
(Jesus dialogando com Públius Lentulus, psicografia de Chico Xavier - Há dois mil anos)
Referências:
Anais - Cornélio Tácito
Antiguidades Judaicas - Flávio Josefo
A Pesquisa do Jesus Histórico - Giuseppe Segalla
O Livro dos Espíritos - Allan Kardec
Há Dois Mil Anos - Chico Xavier pelo espírito de Emmanuel
Paulo e Estevão - Chico Xavier pelo espírito de Emmanuel
Nenhum comentário:
Postar um comentário