A crise econômica em nosso Brasil, assunto que em todos os instantes
consta na pauta da imprensa, e do qual não se pode furtar, porquanto
influencia diretamente em nossa vida, não é tema novo.
O século
XX, por exemplo, produziu algumas crises econômicas. Na chamada Grande
Depressão, no ano de 1929, muitos bancos e empresas estadunideneses
foram à falência. Ocorre que na época da Primeira Guerra Mundial os
Estados Unidos exportavam muitos produtos à Europa. Contudo, conforme a
reabilitação dos países europeus, as exportações foram cessando, o que
causou forte impacto na economia do país. Esta crise produziu um grande
número de suicídios. Aliás, as crises econômicas, de forma geral, trazem
o desespero ao homem imediatista que vê no suicídio a porta de saída
para seus problemas. Ledo engano.
O Brasil, que na ocasião
exportava grande quantidade de café aos EUA também foi afetado pela
crise, porque seu parceiro comercial diminuiu drasticamente suas
importações, o que fez o preço do café brasileiro cair um bocado.
Entretanto, esta crise no setor do café teve seu ponto positivo, pois
os cafeicultores brasileiros tiveram que, a partir desta situação,
investir no setor industrial, gerando bons reflexos na indústria
brasileira.
Não faz muito tempo, na década de 1980, vivíamos um
Brasil imerso em crise. Inflação galopante que corroia o já pequeno
salário do trabalhador. Os preços eram alterados numa velocidade
vertiginosa, instabilidade total.
Tivemos, também, a crise de 2008 que se iniciou nos EUA e contaminou o Brasil, além de outros países.
Poderíamos ficar aqui por páginas a fio, passeando pelo mundo e suas
crises, causas, protagonistas e consequências. Entretanto, urge
abordarmos um pouco a crise que no ano de 2015 tomou conta de nosso país
e, pelo caminhar dos fatos, estender-se-á pelos anos vindouros,
exigindo de nós, brasileiros, reflexão e atitude.
Uma das
consequências da crise é o desemprego. Com a retração da economia as
empresas tendem a inibir contratações e agilizar demissões. É sabido que
muitas (óbvio que não todas) empresas vão no embalo da crise e suas
especulações para diminuir o quadro de funcionários. Como só se fala em
crise, a empresa que demite nesta época não fica mal perante o público.
Não precisam demitir, mas o fazem. A conta é simples: menos
funcionários, mais lucro.
Naturalmente que não está neste rol a
empresa que passa verdadeiramente pela crise, pois para estas as
demissões são, infelizmente, um caminho para a recuperação.
A caridade como ferramenta para superação da crise
Em “O Evangelho segundo o Espiritismo” há uma mensagem do Espírito
Pascal, no ano de 1862, em que aborda tema egoísmo. Diz o benfeitor para
o homem libertar-se do sentimento de indiferença e ser mais sensível ao
sofrimento alheio, pois é a indiferença que aniquila os bons
sentimentos.
Se colocarmos a ideia de sermos mais sensíveis ao
sofrimento alheio no mundo corporativo não desempregaremos alguém sem
necessidade. Não demitiremos por especulação, não deixaremos um pai de
família sem a honra de poder levar para sua casa o pão de cada dia
santificado pelo suor de seu rosto.
Repetindo para que não haja
ruído na comunicação. Refiro-me aqui às empresas que demitem apenas
porque vão no embalo da crise, ou seja, demitem sem necessidade, tão
somente com o objetivo de lucrar mais, mesmo que este preço seja o das
demissões.
Recentemente estive proferindo palestras pelo interior
de São Paulo, e em conversa com um confrade sobre o tema crise ele, que
também é empresário, disse-me:
Não demitirei meus funcionários.
Tenho 60 pessoas em minha empresa e, não obstante a queda no faturamento
estamos operando no azul, as contas estão sendo pagas, portanto
aguardarei esta fase passar. O que não farei no momento é abrir postos
de trabalho, pois não se justifica, mas não demitirei. Tenho fé no
futuro, as coisas melhorarão.
Fiquei muito feliz com a visão
deste amigo empresário. Não está se aproveitando da crise para promover
um desmonte em sua equipe, antes, porém, sendo sensível a situação de
seus colaboradores.
Eis, na prática, a caridade como ferramenta
de superação da crise, pois quando eu me coloco no lugar do outro,
aumento as chances de ser mais sensível a sua situação.
Reflexão: o que as crises querem me ensinar?
Diz o ditado que mar calmo não faz bom marinheiro. O progresso vem,
quase sempre, quando estamos pressionados e necessitamos criar uma
solução para este ou aquele caso. Aí mobilizamos as forças da alma,
refletimos e agimos para ficarmos liberados da questão que nos aflige.
São nas agitações do dia a dia, são nas crises, sejam de um país, de
uma família ou segmento que saímos da zona de conforto e modificamos
nosso comportamento.
No estágio evolutivo em que nos encontramos, as crises têm, dentre algumas funções, a de trazer para nós algumas indagações.
Por que isto está ocorrendo?
O que esta crise quer me ensinar?
O que eu posso fazer para sair desta situação?
As crises não são, portanto, punições de Deus a um país, mas uma ferramenta de educação para um povo.
Em nosso caso, por exemplo, está nítido que a crise econômica e
política é apenas o reflexo de uma crise bem mais profunda e séria: a
moral.
Pouco afeitos a respeitar regras, criamos o famoso
“jeitinho brasileiro”, em que sem nenhum pudor desrespeitamos
regulamentos e normas para atender nossas conveniências.
Natural
que, sendo parte do povo e envolvidos em sua cultura e costumes, os
políticos repetirão no poder as tendências da população.
Em “O
Evangelho segundo o Espiritismo”, numa mensagem regada à beleza e
grandiosidade, denominada: O dever, Lázaro – Espírito – ensina que o
dever reflete todas as virtudes morais. O dever é severo e dócil e está
sempre pronto a submeter-se às situações permanecendo firme diante das
tentações.
Qual o dever de um homem público?
Qual o dever de um cidadão?
Ora, todos sabemos quais são nossos deveres. Mas, por que mesmo sabendo
de nossos deveres não os cumprimos? Por qual razão, mesmo conscientes,
tombamos ante às tentações?
Cumprir com o dever, portanto, é
trabalhar em nossa autoiluminação que, por sua vez, resultará num total e
irrestrito respeito pelas regras, pela valorização do que é bom para o
coletivo, enfim, pela busca constante em superar as nossas más
inclinações, pois quando nossas más inclinações vencem, o dever não se
cumpre e todos perdem, nós e a sociedade.
Tempo de analisar nosso estilo de vida
Um outro ponto a abordar no assunto crise é nosso estilo de vida.
Como estamos levando nossa existência? Somos consumistas contumazes?
Criamos necessidades a todo tempo? Nossos desejos são insaciáveis?
Ficamos infelizes quando não conseguimos comprar?
Junto com estas questões proponho outra:
Será que esta crise veio para mostrar-me como pode ser interessante e possível viver de uma outra forma, mais simples?
Há, em “O Livro dos Espíritos”, na resposta da questão 926, uma
afirmação de impacto dos Espíritos: aquele que sabe limitar seus desejos
e vê sem inveja o que está acima de si poupa-se de muitos dissabores.
Uma convocação para uma vida mais simples, mais calma e tranquila,
baseada na conquista dos valores do espírito imortal e não apenas no
desejo desenfreado, que alimenta o consumismo irracional e faz, com
frequência, os estardalhaços econômicos.
Há alguns anos, ouvi do
economista Reinaldo Caffeo que um dos motivos para o alto endividamento
das famílias brasileiras é a inveja. Mas, como assim? Como a inveja pode
endividar alguém?
Simples: a inveja faz-nos cometer loucuras e
extrapolar o orçamento doméstico. Aquele tênis que o vizinho comprou eu
quero mas não tenho condições financeiras para adquirir, porém, passo ao
largo do bom senso e, ainda assim, compro o bem, mas endivido-me.
Eis a inveja como elemento de endividamento.
E ensinam os Espíritos: limitar os desejos e ver sem inveja os que estão acima de nós poupa-nos de dissabores.
Assim somos poupados de cobranças, nome negativado, dores de cabeça, e
nesses tempos de crise o que não precisamos é de dor de cabeça.
Mas, como diz Allan Kardec:
Quase sempre é o homem o construtor de sua infelicidade.
Por lógica, se o homem constrói a infelicidade poderá construir a felicidade.
Basta refletir e aproveitar a crise para repensar sua conduta, seu comportamento e seu estilo de vida.
Tudo passa, e a crise passará, porém, que fique para nós a experiência.
Pensemos nisto.
Wellington Balbo
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