sexta-feira, 16 de junho de 2017

PROCESSOS OBSESSIVOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Obsessão, segundo o espiritismo, é uma influência de seres imateriais (espíritos) que influenciam as pessoas devido aos seus pensamentos impuros. Os adeptos da religião acreditam que a obsessão pode causar doenças físicas e ou psíquicas.
 

Segundo Allan Kardec, o codificador do espiritismo, seria o domínio que alguns espíritos logram adquirir sobre certas pessoas. Sempre praticado por espíritos inferiores que procuram dominar o obsediado. É a ação persistente que um espírito mau exerce sobre um indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação completa do organismo e das faculdades mentais.

Quando ultrapassam os limites de simples influenciações, enraizando-se na mente da vítima que passa a viver sob o domínio total do obsessor, as obsessões assumem caráter de subjugação ou possessão e ocasionam sérios danos ao organismo do obsidiado. Surgem, assim, distúrbios variados, difíceis de serem diagnosticados com precisão e difíceis até de serem constatados.

Se refletirmos bem, iremos verificar que os problemas que acometem o obsidiado são bastante complexos e dolorosos.

A obsessão é a escravização momentânea do pensamento, quando este se apresenta tolhido na sua livre manifestação, em razão de onda mental alheia que o constrange e perturba, impedindo a sua expansão, o seu livre pensar.

Qualquer cativeiro é doloroso. O cativeiro físico apresenta a possibilidade de deixar liberto o pensamento do cativo. Na obsessão, entretanto, o ser torna-se escravo de maneira integral. É a pior forma de servidão. A mais pungente. E também a que mais nos toca o coração.

Quando uma criatura cai nas malhas do cativeiro físico, mantém livre o seu pensamento, que de muitas formas se expande em sonhos, fé e esperanças, tornando pelo menos suportável o cerceamento material. Mas, nos processos obsessivos graves, a pessoa se apresenta aparentemente livre, porém, em realidade, está acorrentada, mentalmente dominada por seres invisíveis que detêm o vôo do seu pensamento, isto e da manifestação da própria essência da individualidade, do Espírito. Esse confinamento, essa prisão, a mais triste, escura e solitária é, pois, a mais cruel e a que mais faz sofrer.

Soma-se à influência dos obsessores a sensação, a certeza do remorso, do passado que se ergue como fantasma insepulto que vem assombrar os dias presentes.

Então, realmente, o obsidiado é prisioneiro em todos sentidos, vencido ao peso de tormentos inenarráveis que ele mesmo engendrou, e avança em sua aspérrima caminhada, tentando evadir-se da miserável cela onde geme e chora, para o claro sol da liberdade.

Na noite tempestuosa em que se debate, imaginemos, por um instante, o que representa para ele os recursos que a Doutrina Espírita lhe oferece. Somente o Espiritismo tem condições de dar a esses sofredores o alívio, a compreensão, o caminho para a liberdade. É a chave que vem abrir as portas da masmorra pessoal e livrar da mais completa escravidão não apenas os obsidiados, mas também os obsessores, que, afligindo e fazendo sofrer, automaticamente se aprisionam ao jugo do ódio, que os converte também em escravos e em vítimas, tal como acontece àqueles a quem perseguem.

Encontramos no caso Ester, narrado por Manoel Philomeno de Miranda em sua obra Grilhões Partidos, o exemplo de obsessão em grau muito avançado, com características de possessão. O autor narra com detalhes os tormentos que a obsidiada enfrenta.

Evidentemente são sofrimentos acerbos. Tolhida em seu pensamento, incapaz de se exteriorizar, a doente padece a aflição de sentir que uma figura apavorante se intromete em sua casa mental roubando-lhe a paz, quebrando-lhe a resistência e ocasionando, com o seu pensamento desequilibrado, alucinações, visões terríveis que a enchem de terror.

O medo que então experimenta desestrutura-a psiquicamente, fazendo-a viver em clima de constante pesadelo, do qual não consegue despertar.

Se tenta agir, gritar, reagir, não tem forças, não comanda mais o seu próprio comportamento e vê-se perdida no cipoal de idéias enlouquecedoras, que sabe não serem as suas, mas às quais tem que obedecer porque se sente dominada em todos os centros de registro.

A permanência nesse estado lesa o organismo físico, instalando-se nele enfermidades reais e muito cruéis.

Dessa forma, a obsessão pode ter como consequência, entre outras, a loucura, a epilepsia, a esquizofrenia, o suicídio, aos vícios em geral. (uma pessoa pode ser levada aos vícios pela atuação de obsessores ou, ainda, de moto-próprio, atraindo entidades infelizes que se utilizarão dela para se locupletarem).

Temos presenciado muitos casos dolorosos, onde a aparente loucura mascara o verdadeiro quadro: a possessão. A exemplo de um grande filme que relata muito bem estes casos. (O Exorcista)

Certa vez, logo que iniciamos o trabalho desobsessivo, fomos chamada para aplicar um passe. Segundo nos informaram, a doente, em crise de loucura, estava amarrada ao leito, a fim de se evitar que se machucasse ou se matasse.

Cercamo-nos de todos os cuidados espirituais que são imprescindíveis num labor desse quilate, pois sabemos que em muitos casos ou quase todos, as entidades que se prestam a esse tipo de obsessão é dos mais terríveis e perigosos já em transito por nosso planeta. Fomos em companhia de pessoa bastante experiente nesses trabalhos.

Chegando ao lar da enferma, soubemos que ela era recém-casada e que subitamente passara a agir como louca. Estava amarrada ao leito, completamente hebetada. Era um quadro triste de se ver. Fizemos leitura de um trecho de O Evangelho segundo o Espiritismo, oramos e aplicamos os passes, trazendo alívio bastante acentuado à doente, que se apresentou bem mais serena. Recebemos esclarecimento dos Benfeitores Espirituais de que o caso era de obsessão e que a jovem senhora deveria ser tratada espiritualmente (recorrendo-se ainda à terapêutica médica, evitando-se, porém sua internação, já que haveria possibilidade de tratá-la em casa.

Conseguiu-se, inclusive, que ela se acalmasse pouco após a medicação. Entretanto, a família da paciente era absolutamente contrária ao tratamento espiritual e manifestou-se em franca oposição ao prosseguimento do trabalho de passes, bem como de quaisquer outras orientações do Espiritismo. Afirmaram que apenas aceitaram o passe naquele momento, por se tratar de emergência e por estarem chocados com a situação. Alguém havia sugerido o Espiritismo como solução urgente …

No dia seguinte a doente foi internada numa casa especializada. Menos de 48 horas após à internação, desencarnou em consequência de uma parada cardíaca.

Já se passaram mais de trinta anos e não nos esquecemos dessa irmã, que, conforme nos informaram os Amigos da Espiritualidade, foi amparada, esclarecida e hoje prossegue seu aprendizado, preparando-se para nova reencarnação junto ao seu obsessor que antecedeu-a na esfera carnal, onde se reencontrarão para o momento de perdão e paz.

André Luiz apresenta-nos elucidação a respeito, sobretudo, das enfermidades psíquicas clássicas: “( … ) na retaguarda dos desequilíbrios mentais, sejam da ideação ou da afetividade, da atenção e da memória, tanto quanto por trás de enfermidades psíquicas clássicas, como, por exemplo, as esquizofrenias e as parafrenias, as oligofrenias e a paranoia, as psicoses e neuroses de multifária expressão, permanecem as perturbações da individualidade transviada do caminho que as Leis Divinas lhe assinalam à evolução moral. ”

São pois enfermidades da alma a se refletirem no corpo físico.

Importa deixar bem claro que não se deve confundir e generalizar, afirmando que tudo é obsessão, que tudo é provocado por obsessores, como também não se deve atribuir todas as nossas dificuldades à ação dos Espíritos perturbadores. E Kardec nos deixou bem claro quanto a isto, a esse exagero tão comum no meio espiritual. Nem sempre os problemas são de origem espírita. Pode ser até mesmo um processo de auto-obsessão, como vimos já aqui mesmo.

Também é preciso não confundir esses estados com sintomas de mediunidade. Ocorre freqüentemente que muitos espíritas de boa vontade e bem-intencionados, por desconhecimento, diante de pessoas portadoras de epilepsia, em quaisquer de suas modalidades, afirmam tratar-se de mediunidade, sendo necessário desenvolvê-la. Tais enfermos são encaminhados às reuniões mediúnicas, onde não persistam seus problemas, mas ainda provocam desequilíbrio nos trabalhos, já que não estão aptos a assumir as tarefas da mediunidade que requerem disciplina, estudo e discernimento.

Mediunidade não é doença e nem os sinais de sua eclosão podem ser confundidos com enfermidades. Há que se fazer distinção entre uma enfermidade e os sintomas do desabrochar da faculdade mediúnica. “Conveniente, nesse como noutros casos, cuidar-se de examinar as síndromes das enfermidades psiquiátricas, a fim de não as confundir com os sintomas de mediunidade, no período inicial da manifestação, quando médium se encontra atormentado.”

É muito comum encontrarmos casos de caráter misto onde se conjugam obsessão e males físicos. O Espírito enfermo, endividado, plasma no seu envoltório perispirítico os desvios, as deformidades de que é portador. Conseqüentemente, renascerá em corpo físico que por sua vez refletirá as desarmonias preexistentes no Espírito.

O Codificador, ciente dessa possibilidade, aconselhava, já em sua época, que se deveria aliar, nesses casos, o tratamento de um médico tradicional. O que se vê, contudo, é que muitos espíritas, ignorando as ponderações de Kardec, acostumaram-se a diagnosticar apressadamente, confundindo doença com mediunidade. E, como acham que tudo é mediunidade, muitos aconselham logo a suspensão do tratamento médico e da medicação anticonvulsiva, o que poderá acarretar sérios danos ao enfermo. Os remédios que controlam as crises epilépticas não podem ser suspensos repentinamente, sob pena de o paciente ter o seu estado agravado.

Mesmo que o caso seja misto, isto é, físico e espiritual, ainda assim, não se deve encaminhar sumariamente o enfermo ao exercício das tarefas mediúnicas. Ele necessita ser tratado espiritualmente, ser orientado para os recursos que a Doutrina Espírita coloca ao alcance de toda a Humanidade. Necessita promover a sua auto-desobsessão. E, como mencionamos anteriormente, se está sob o domínio de obsessores, tem o seu pensamento controlado por eles, o que é óbvio, é o principal motivo que obstará o desenvolvimento de sua faculdade mediúnica.

Vejamos um caso de caráter misto.

Michel (nome fictício) padecia há longos anos de um processo misto de epilepsia e obsessão. Muito franzino, trazia no semblante as marcas do sofrimento. Sendo pessoa de poucos recursos, precisava trabalhar, mas em razão do seu mal não se estabilizava em emprego algum.

Quando vinham as crises epilépticas, Michel, totalmente inconsciente, levava quedas dolorosas. Certa vez, rolou do alto de uma escada, machucando-se seriamente. Em outra ocasião, estando a fazer alguma tarefa domestica, caiu e bateu o rosto no fogão elétrico, queimando-se na face. Em seu corpo apresentava sempre as contusões provenientes dos tombos que freqüentemente era vítima. Assim, era a vida desse moço, verdadeiro martírio.

Passando a frequentar a Casa de Apometria Alvorecer, teve acentuada melhora com os passes de energia, nas reuniões públicas.

Feita a consulta espiritual, foi esclarecido que Michel precisava de um tratamento médico aliado à terapêutica espiritual. Um médico neurologista, que integrava a equipe de desobsessão, prontificou-se a examiná-lo e prescrever a medicação. Efetuados os exames. Michel relutava em aceitar o diagnóstico. Mas, acabou concordando e começou a usar os medicamentos. E pela primeira vez em vários anos, as crises desapareceram.

Ao mesmo tempo que era tratado espiritualmente constatou-se que o paciente era atormentada por dezenas de obsessores. Em encarnação anterior havia sido pessoa de muito poder e de grande perversidade. Antes da encarnacão atual, tivera uma outra que renascera num corpo disforme. A existência de hoje representava o início de sua recuperação, através do ensejo de conhecer o Espiritismo e também de se mostrar regenerado aos seus perseguidores, propiciando oportunidade de reajustamento e perdão mútuo. Um número expressivo de seus obsessores foram esclarecidos e encaminhados para tratamentos diversos, em trabalho que se prolongou por alguns meses.

Entretanto, após algum tempo de uso dos remédios, resolveu por si mesmo – e influenciada, é óbvio, por alguns obsessores mais renitentes, suspendê-los. As crises voltaram, mas o doente afirmava ser seu mal apenas espiritual. Estava condicionado a afirmação desse teor, pois em todos os lugares que frequentara nunca lhe haviam alertado para o fato de ter também um componente físico o seu problema. Aconselhado pelo médico e pelos companheiros, e até pelo Mentor, ele voltou a usar a medicação. Mas, logo depois, suspendia-a novamente. Michel, finalmente, parou por completo com o tratamento. Preferia dizer-se obsidiado. Durante todos esses anos o paciente colaborou em pequenas tarefas na Casa, onde, aliás, era assíduo e perseverante.

Com o passar do tempo, como as crises não desaparecessem e as orientações continuassem a indicar o uso dos remédios, ele começou a mostrar-se insatisfeito. Comentou que talvez fosse necessário outro tipo de trabalho para o seu caso. Soube-se que estava sendo influenciado por uma pessoa que dizia ter solução melhor para ele. E aos poucos deixou de comparecer à Casa, indiferente a todos os conselhos.

Recebemos notícias desse irmão, de vez em quando. Prossegue em sua vida de sofrimentos, não tendo encontrado o alívio que almejava.

Obsessões desse tipo são tão complexas e profundas que o espaço de uma encarnação é muito pequeno para resolver tantos conflitos. Só muito lentamente surgirá a transformação dessas almas endividadas, por um processo de cicatrização de dentro para fora. A cura não poderá ser efetivada por ninguém, a não ser pelo próprio sofredor, funcionando encarnados e desencarnados que colaboram se ajudando, quais enfermeiros abnegados, que ofertam o algodão da solidariedade e do amor.

A medida que a criatura for-se evangelizando, aprendendo a amar e perdoar, conquistando méritos, os seus algozes serão igualmente motivados para o reajuste.

Não podemos deixar de mencionar que muitas pessoas acreditam ser os trabalhos desobsessivos orientados pela Espiritualidade serem mais fracos que aqueles efetuados por outros processos. Fica patenteado com essa assertiva o desconhecimento absoluto do que seja realmente desobsessão. Pensam que o trabalho é forte quando os médiuns se deixam jogar ao solo, contorcendo-se e portando-se desatinadamente. Quanto maior a gritaria, a balbúrdia, mais forte consideram a sessão. E, conseqüentemente creem que os resultados são mais produtivos.

Meditando sobre o assunto, não é difícil verificar-se a fragilidade de tais argumentos. O que se vê em sessões desse tipo são médiuns sem nenhuma educação mediúnica, sem disciplina e, sobretudo, sem estudo, a servirem de instrumento a manifestações de teor primitivo. É inegável que esses trabalhos podem apresentar benefícios na faixa de entendimento em que se situam, inclusive despertando consciências para as verdades da vida além da vida. Esquecem ou não sabem tais críticos que todo trabalho espírita é essencialmente de renovação interior, visando à cura da entidade e de seus adjacentes, não a fórmulas imediatistas que adiam a solução final. A Espiritualidade, indo além dos efeitos, remonta à, causas do problema, às suas origens, para, no seu cerne, laborar profundamente, corrigindo, medicando e combatendo o mal pela raiz.

Infere-se, pois, que o labor desobsessivo à luz da Apometria tem por escopo a cura das entidades, o reajuste dos seres comprometidos e endividados que se deixam enredar nas malhas da obsessão, e não somente afastar os parceiros, aliando o entendimento e perdão.

Para atingir esse objetivo sublime, não há necessidade de espetáculos, de demonstrações barulhentas, há sim necessidade da diretriz abençoada da Espiritualidade.

Suely C. Shubert

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