Obsessão, segundo o espiritismo, é uma influência de seres
imateriais (espíritos) que influenciam as pessoas devido aos seus
pensamentos impuros. Os adeptos da religião acreditam que a obsessão
pode causar doenças físicas e ou psíquicas.
Segundo Allan Kardec, o codificador do espiritismo, seria o domínio que alguns espíritos logram adquirir sobre certas pessoas.
Sempre praticado por espíritos inferiores que procuram dominar o
obsediado. É a ação persistente que um espírito mau exerce sobre um
indivíduo. Apresenta caracteres muito diversos, desde a simples
influência moral, sem perceptíveis sinais exteriores, até a perturbação
completa do organismo e das faculdades mentais.
Quando
ultrapassam os limites de simples influenciações, enraizando-se na mente
da vítima que passa a viver sob o domínio total do obsessor, as
obsessões assumem caráter de subjugação ou possessão e ocasionam sérios
danos ao organismo do obsidiado. Surgem, assim, distúrbios variados,
difíceis de serem diagnosticados com precisão e difíceis até de serem
constatados.
Se refletirmos bem, iremos verificar que os problemas que acometem o obsidiado são bastante complexos e dolorosos.
A
obsessão é a escravização momentânea do pensamento, quando este se
apresenta tolhido na sua livre manifestação, em razão de onda mental
alheia que o constrange e perturba, impedindo a sua expansão, o seu
livre pensar.
Qualquer cativeiro é doloroso. O cativeiro físico
apresenta a possibilidade de deixar liberto o pensamento do cativo. Na
obsessão, entretanto, o ser torna-se escravo de maneira integral. É a
pior forma de servidão. A mais pungente. E também a que mais nos toca o
coração.
Quando uma criatura cai nas malhas do cativeiro físico,
mantém livre o seu pensamento, que de muitas formas se expande em
sonhos, fé e esperanças, tornando pelo menos suportável o cerceamento
material. Mas, nos processos obsessivos graves, a pessoa se apresenta
aparentemente livre, porém, em realidade, está acorrentada, mentalmente
dominada por seres invisíveis que detêm o vôo do seu pensamento, isto e
da manifestação da própria essência da individualidade, do Espírito.
Esse confinamento, essa prisão, a mais triste, escura e solitária é,
pois, a mais cruel e a que mais faz sofrer.
Soma-se à influência
dos obsessores a sensação, a certeza do remorso, do passado que se ergue
como fantasma insepulto que vem assombrar os dias presentes.
Então,
realmente, o obsidiado é prisioneiro em todos sentidos, vencido ao peso
de tormentos inenarráveis que ele mesmo engendrou, e avança em sua
aspérrima caminhada, tentando evadir-se da miserável cela onde geme e
chora, para o claro sol da liberdade.
Na noite tempestuosa em que
se debate, imaginemos, por um instante, o que representa para ele os
recursos que a Doutrina Espírita lhe oferece. Somente o Espiritismo tem
condições de dar a esses sofredores o alívio, a compreensão, o caminho
para a liberdade. É a chave que vem abrir as portas da masmorra pessoal e
livrar da mais completa escravidão não apenas os obsidiados, mas também
os obsessores, que, afligindo e fazendo sofrer, automaticamente se
aprisionam ao jugo do ódio, que os converte também em escravos e em
vítimas, tal como acontece àqueles a quem perseguem.
Encontramos
no caso Ester, narrado por Manoel Philomeno de Miranda em sua obra
Grilhões Partidos, o exemplo de obsessão em grau muito avançado, com
características de possessão. O autor narra com detalhes os tormentos
que a obsidiada enfrenta.
Evidentemente são sofrimentos acerbos.
Tolhida em seu pensamento, incapaz de se exteriorizar, a doente padece a
aflição de sentir que uma figura apavorante se intromete em sua casa
mental roubando-lhe a paz, quebrando-lhe a resistência e ocasionando,
com o seu pensamento desequilibrado, alucinações, visões terríveis que a
enchem de terror.
O medo que então experimenta desestrutura-a
psiquicamente, fazendo-a viver em clima de constante pesadelo, do qual
não consegue despertar.
Se tenta agir, gritar, reagir, não tem
forças, não comanda mais o seu próprio comportamento e vê-se perdida no
cipoal de idéias enlouquecedoras, que sabe não serem as suas, mas às
quais tem que obedecer porque se sente dominada em todos os centros de
registro.
A permanência nesse estado lesa o organismo físico, instalando-se nele enfermidades reais e muito cruéis.
Dessa
forma, a obsessão pode ter como consequência, entre outras, a loucura, a
epilepsia, a esquizofrenia, o suicídio, aos vícios em geral. (uma
pessoa pode ser levada aos vícios pela atuação de obsessores ou, ainda,
de moto-próprio, atraindo entidades infelizes que se utilizarão dela
para se locupletarem).
Temos presenciado muitos casos dolorosos,
onde a aparente loucura mascara o verdadeiro quadro: a possessão. A
exemplo de um grande filme que relata muito bem estes casos. (O
Exorcista)
Certa vez, logo que iniciamos o trabalho desobsessivo,
fomos chamada para aplicar um passe. Segundo nos informaram, a doente,
em crise de loucura, estava amarrada ao leito, a fim de se evitar que se
machucasse ou se matasse.
Cercamo-nos de todos os cuidados
espirituais que são imprescindíveis num labor desse quilate, pois
sabemos que em muitos casos ou quase todos, as entidades que se prestam a
esse tipo de obsessão é dos mais terríveis e perigosos já em transito
por nosso planeta. Fomos em companhia de pessoa bastante experiente
nesses trabalhos.
Chegando ao lar da enferma, soubemos que ela
era recém-casada e que subitamente passara a agir como louca. Estava
amarrada ao leito, completamente hebetada. Era um quadro triste de se
ver. Fizemos leitura de um trecho de O Evangelho segundo o Espiritismo,
oramos e aplicamos os passes, trazendo alívio bastante acentuado à
doente, que se apresentou bem mais serena. Recebemos esclarecimento dos
Benfeitores Espirituais de que o caso era de obsessão e que a jovem
senhora deveria ser tratada espiritualmente (recorrendo-se ainda à
terapêutica médica, evitando-se, porém sua internação, já que haveria
possibilidade de tratá-la em casa.
Conseguiu-se, inclusive, que
ela se acalmasse pouco após a medicação. Entretanto, a família da
paciente era absolutamente contrária ao tratamento espiritual e
manifestou-se em franca oposição ao prosseguimento do trabalho de
passes, bem como de quaisquer outras orientações do Espiritismo.
Afirmaram que apenas aceitaram o passe naquele momento, por se tratar de
emergência e por estarem chocados com a situação. Alguém havia sugerido
o Espiritismo como solução urgente …
No dia seguinte a doente
foi internada numa casa especializada. Menos de 48 horas após à
internação, desencarnou em consequência de uma parada cardíaca.
Já
se passaram mais de trinta anos e não nos esquecemos dessa irmã, que,
conforme nos informaram os Amigos da Espiritualidade, foi amparada,
esclarecida e hoje prossegue seu aprendizado, preparando-se para nova
reencarnação junto ao seu obsessor que antecedeu-a na esfera carnal,
onde se reencontrarão para o momento de perdão e paz.
André Luiz
apresenta-nos elucidação a respeito, sobretudo, das enfermidades
psíquicas clássicas: “( … ) na retaguarda dos desequilíbrios mentais,
sejam da ideação ou da afetividade, da atenção e da memória, tanto
quanto por trás de enfermidades psíquicas clássicas, como, por exemplo,
as esquizofrenias e as parafrenias, as oligofrenias e a paranoia, as
psicoses e neuroses de multifária expressão, permanecem as perturbações
da individualidade transviada do caminho que as Leis Divinas lhe
assinalam à evolução moral. ”
São pois enfermidades da alma a se refletirem no corpo físico.
Importa
deixar bem claro que não se deve confundir e generalizar, afirmando que
tudo é obsessão, que tudo é provocado por obsessores, como também não
se deve atribuir todas as nossas dificuldades à ação dos Espíritos
perturbadores. E Kardec nos deixou bem claro quanto a isto, a esse
exagero tão comum no meio espiritual. Nem sempre os problemas são de
origem espírita. Pode ser até mesmo um processo de auto-obsessão, como
vimos já aqui mesmo.
Também é preciso não confundir esses estados
com sintomas de mediunidade. Ocorre freqüentemente que muitos espíritas
de boa vontade e bem-intencionados, por desconhecimento, diante de
pessoas portadoras de epilepsia, em quaisquer de suas modalidades,
afirmam tratar-se de mediunidade, sendo necessário desenvolvê-la. Tais
enfermos são encaminhados às reuniões mediúnicas, onde não persistam
seus problemas, mas ainda provocam desequilíbrio nos trabalhos, já que
não estão aptos a assumir as tarefas da mediunidade que requerem
disciplina, estudo e discernimento.
Mediunidade não é doença e
nem os sinais de sua eclosão podem ser confundidos com enfermidades. Há
que se fazer distinção entre uma enfermidade e os sintomas do
desabrochar da faculdade mediúnica. “Conveniente, nesse como noutros
casos, cuidar-se de examinar as síndromes das enfermidades
psiquiátricas, a fim de não as confundir com os sintomas de mediunidade,
no período inicial da manifestação, quando médium se encontra
atormentado.”
É muito comum encontrarmos casos de caráter misto
onde se conjugam obsessão e males físicos. O Espírito enfermo,
endividado, plasma no seu envoltório perispirítico os desvios, as
deformidades de que é portador. Conseqüentemente, renascerá em corpo
físico que por sua vez refletirá as desarmonias preexistentes no
Espírito.
O Codificador, ciente dessa possibilidade, aconselhava,
já em sua época, que se deveria aliar, nesses casos, o tratamento de um
médico tradicional. O que se vê, contudo, é que muitos espíritas,
ignorando as ponderações de Kardec, acostumaram-se a diagnosticar
apressadamente, confundindo doença com mediunidade. E, como acham que
tudo é mediunidade, muitos aconselham logo a suspensão do tratamento
médico e da medicação anticonvulsiva, o que poderá acarretar sérios
danos ao enfermo. Os remédios que controlam as crises epilépticas não
podem ser suspensos repentinamente, sob pena de o paciente ter o seu
estado agravado.
Mesmo que o caso seja misto, isto é, físico e
espiritual, ainda assim, não se deve encaminhar sumariamente o enfermo
ao exercício das tarefas mediúnicas. Ele necessita ser tratado
espiritualmente, ser orientado para os recursos que a Doutrina Espírita
coloca ao alcance de toda a Humanidade. Necessita promover a sua
auto-desobsessão. E, como mencionamos anteriormente, se está sob o
domínio de obsessores, tem o seu pensamento controlado por eles, o que é
óbvio, é o principal motivo que obstará o desenvolvimento de sua
faculdade mediúnica.
Vejamos um caso de caráter misto.
Michel
(nome fictício) padecia há longos anos de um processo misto de
epilepsia e obsessão. Muito franzino, trazia no semblante as marcas do
sofrimento. Sendo pessoa de poucos recursos, precisava trabalhar, mas em
razão do seu mal não se estabilizava em emprego algum.
Quando
vinham as crises epilépticas, Michel, totalmente inconsciente, levava
quedas dolorosas. Certa vez, rolou do alto de uma escada, machucando-se
seriamente. Em outra ocasião, estando a fazer alguma tarefa domestica,
caiu e bateu o rosto no fogão elétrico, queimando-se na face. Em seu
corpo apresentava sempre as contusões provenientes dos tombos que
freqüentemente era vítima. Assim, era a vida desse moço, verdadeiro
martírio.
Passando a frequentar a Casa de Apometria Alvorecer, teve acentuada melhora com os passes de energia, nas reuniões públicas.
Feita
a consulta espiritual, foi esclarecido que Michel precisava de um
tratamento médico aliado à terapêutica espiritual. Um médico
neurologista, que integrava a equipe de desobsessão, prontificou-se a
examiná-lo e prescrever a medicação. Efetuados os exames. Michel
relutava em aceitar o diagnóstico. Mas, acabou concordando e começou a
usar os medicamentos. E pela primeira vez em vários anos, as crises
desapareceram.
Ao mesmo tempo que era tratado espiritualmente
constatou-se que o paciente era atormentada por dezenas de obsessores.
Em encarnação anterior havia sido pessoa de muito poder e de grande
perversidade. Antes da encarnacão atual, tivera uma outra que renascera
num corpo disforme. A existência de hoje representava o início de sua
recuperação, através do ensejo de conhecer o Espiritismo e também de se
mostrar regenerado aos seus perseguidores, propiciando oportunidade de
reajustamento e perdão mútuo. Um número expressivo de seus obsessores
foram esclarecidos e encaminhados para tratamentos diversos, em trabalho
que se prolongou por alguns meses.
Entretanto, após algum tempo
de uso dos remédios, resolveu por si mesmo – e influenciada, é óbvio,
por alguns obsessores mais renitentes, suspendê-los. As crises voltaram,
mas o doente afirmava ser seu mal apenas espiritual. Estava
condicionado a afirmação desse teor, pois em todos os lugares que
frequentara nunca lhe haviam alertado para o fato de ter também um
componente físico o seu problema. Aconselhado pelo médico e pelos
companheiros, e até pelo Mentor, ele voltou a usar a medicação. Mas,
logo depois, suspendia-a novamente. Michel, finalmente, parou por
completo com o tratamento. Preferia dizer-se obsidiado. Durante todos
esses anos o paciente colaborou em pequenas tarefas na Casa, onde,
aliás, era assíduo e perseverante.
Com o passar do tempo, como as
crises não desaparecessem e as orientações continuassem a indicar o uso
dos remédios, ele começou a mostrar-se insatisfeito. Comentou que
talvez fosse necessário outro tipo de trabalho para o seu caso. Soube-se
que estava sendo influenciado por uma pessoa que dizia ter solução
melhor para ele. E aos poucos deixou de comparecer à Casa, indiferente a
todos os conselhos.
Recebemos notícias desse irmão, de vez em
quando. Prossegue em sua vida de sofrimentos, não tendo encontrado o
alívio que almejava.
Obsessões desse tipo são tão complexas e
profundas que o espaço de uma encarnação é muito pequeno para resolver
tantos conflitos. Só muito lentamente surgirá a transformação dessas
almas endividadas, por um processo de cicatrização de dentro para fora. A
cura não poderá ser efetivada por ninguém, a não ser pelo próprio
sofredor, funcionando encarnados e desencarnados que colaboram se
ajudando, quais enfermeiros abnegados, que ofertam o algodão da
solidariedade e do amor.
A medida que a criatura for-se
evangelizando, aprendendo a amar e perdoar, conquistando méritos, os
seus algozes serão igualmente motivados para o reajuste.
Não
podemos deixar de mencionar que muitas pessoas acreditam ser os
trabalhos desobsessivos orientados pela Espiritualidade serem mais
fracos que aqueles efetuados por outros processos. Fica patenteado com
essa assertiva o desconhecimento absoluto do que seja realmente
desobsessão. Pensam que o trabalho é forte quando os médiuns se deixam
jogar ao solo, contorcendo-se e portando-se desatinadamente. Quanto
maior a gritaria, a balbúrdia, mais forte consideram a sessão. E,
conseqüentemente creem que os resultados são mais produtivos.
Meditando
sobre o assunto, não é difícil verificar-se a fragilidade de tais
argumentos. O que se vê em sessões desse tipo são médiuns sem nenhuma
educação mediúnica, sem disciplina e, sobretudo, sem estudo, a servirem
de instrumento a manifestações de teor primitivo. É inegável que esses
trabalhos podem apresentar benefícios na faixa de entendimento em que se
situam, inclusive despertando consciências para as verdades da vida
além da vida. Esquecem ou não sabem tais críticos que todo trabalho
espírita é essencialmente de renovação interior, visando à cura da
entidade e de seus adjacentes, não a fórmulas imediatistas que adiam a
solução final. A Espiritualidade, indo além dos efeitos, remonta à,
causas do problema, às suas origens, para, no seu cerne, laborar
profundamente, corrigindo, medicando e combatendo o mal pela raiz.
Infere-se,
pois, que o labor desobsessivo à luz da Apometria tem por escopo a cura
das entidades, o reajuste dos seres comprometidos e endividados que se
deixam enredar nas malhas da obsessão, e não somente afastar os
parceiros, aliando o entendimento e perdão.
Para atingir esse
objetivo sublime, não há necessidade de espetáculos, de demonstrações
barulhentas, há sim necessidade da diretriz abençoada da
Espiritualidade.
Suely C. Shubert
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