III – MUNDOS REGENERADORES
16 – Entre essas estrelas que
cintilam na abóbada azulada, quantas delas são mundos, como o vosso,
designados pelo Senhor para expiação e provas! Mas há também entre elas
mundos mais infelizes e melhores, como há mundos transitórios, que
podemos chamar de regeneradores. Cada turbilhão planetário, girando no
espaço em torno de um centro comum, arrasta consigo mundos primitivos,
de provas, de regeneração e de felicidade. Já ouvistes falar desses
mundos em que a alma nascente é colocada, ainda ignorante do bem e do
mal, para que possa marchar em direção a Deus, senhora de si mesma, na
posse do seu livre-arbítrio. Já ouvistes falar das amplas faculdades de
que a alma foi dotada, para praticar o bem. Mas ai!, existem as que
sucumbem! Então Deus, que não quer aniquilá-las, permite-lhes ir a esses
mundos em que, de encarnações em encarnações podem fazer-se novamente
dignas da glória a que foram destinadas.
17 – Os mundos
regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os
felizes. A alma que se arrepende, neles encontra a paz e o descanso,
acabando por se purificar. Sem dúvida, mesmo nesses mundos, o homem
ainda está sujeito às leis que regem a matéria. A humanidade experimenta
as vossas sensações e os vossos desejos, mas está isenta das paixões
desordenadas que vos escravizam. Neles, não há mais o orgulho que
emudece o coração, a inveja que o tortura e o ódio que os asfixia. A
palavra amor está escrita em todas as frontes; uma perfeita equidade
regula as relações sociais; todos manifestam a Deus e procuram elevar-se
a Ele, seguindo as suas leis.
Nesses mundos, contudo, ainda não
existe a perfeita felicidade, mas a aurora da felicidade. O homem ainda é
carnal, e por isso mesmo sujeito às vicissitudes de que só estão
isentos os seres completamente desmaterializados. Ainda tem provas a
sofrer, mas estas não se revestem das pungentes angústias da expiação.
Comparados à Terra, esses mundos são mais felizes, e muito de vós
gostariam de habitá-los, porque representa a calma após a tempestade, a
convalescença após uma doença cruel. Menos absorvido pelas coisas
materiais, o homem entrevê melhor o futuro do que vós, compreende que
são outras as alegrias prometidas pelo Senhor aos que tornam dignos,
quando a morte ceifar novamente os seus corpos, para lhes dar a
verdadeira vida. É então que a alma liberta poderá pairar sobre os
horizontes. Não mais os sentidos materiais e grosseiros, mas os sentidos
de um perispírito puro e celeste, aspirando às emanações de Deus, sob
os aromas do amor e da caridade, que se expandem do seu seio.
18 –
Mas, ah!, nesses mundos o homem ainda é falível, e o Espírito do mal
ainda não perdeu completamente o seu domínio sobre ele. Não avançar é
recuar, e se ele não estiver firme no caminho do bem, pode cair
novamente em mundos de expiação, onde o esperam novas e mais terríveis
provas. Contemplai, pois, durante a noite, na hora do repouso e da
prece, essa abóbada azulada, e entre as inumeráveis esferas que brilham
sobre as vossas cabeças, procurai as que levam a Deus, e pedi que um
mundo regenerador vos abrisse o seu seio, após a expiação na Terra.
ALLAN KARDEC – O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – MUNDOS REGENERADORES — SANTO AGOSTINHO
— PARIS, 1862
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