Por Deolindo Amorim
0 bom médium não é o que se comunica facilmente, mas o que é mais simpático aos bons Espíritos e está sempre assistido por eles. Tal frase encontramos em O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XXIV n. ° 12
0 ensino é claro, mas muita gente ainda pensa que o bom médium é o que tem possibilidades de receber muitas comunicações.
O qualificativo de BOM médium é um juízo de valor e, por isso, muito
subjetivo, pois depende do ponto de vista. Para os que encaram a
produção mediúnica exclusivamente em termos quantitativos, o bom médium,
na realidade, é o que produz muito, é aquele que tem facilidade, por
exemplo, de captar
mensagens à vontade. Mas qual é o conteúdo dessas mensagens? É aí que está o problema. Quem, no
entanto, vê o trabalho mediúnico pelo teor das comunicações
naturalmente há-de considerar bom médium aquele que está em sintonia com
Espíritos capazes de transmitir ensinos elevados e construtivos.
Muitas vezes o médium pode produzir muito, e a qualquer momento ; mas nem por isso tem condições para tarefas de grande responsabilidade moral. Veja-se o que ocorreu com o
próprio Kardec, exatamente quando estava empenhado de corpo e alma na
preparação de O Livro dos Espíritos. Tudo ia bem quando, a certa altura,
em diálogo com o Espírito de Hahnemann, Kardec perguntou à entidade
orientadora se poderia aproveitar determinado médium no prosseguimento
dos trabalhos. Era um médium que naturalmente produzia, mas não tinha
idoneidade para a obra.
Por isso mesmo, o Espírito instrutor fez logo restrição
-Acho melhor não te servires dele. Porque a verdade não pode ser interpretada pela mentira.
E continuou:
... o médium secunda o Espírito e, quando o Espírito é velhaco, ele se
presta a auxiliá-lo. Aristo e B (o Espírito e o médium) acabarão mal,
arrematou Hahnemann.
Pois bem, logo depois veio a derrocada do médium,que teria comprometido a Codificação, se tivesse sido convocado para participar dos trabalhos de Kardec. Leia-se a propósito a nota de Kardec nos seguintes
termos:
"B..., bom moço, era um médium escrevente, muito maleável, mas
assistido por um Espírito muito orgulhoso e arrogante, que dava o nome
de Aristo, e que lhe lisonjeava o amor-próprio. As previsões de
Hahnemann se realizaram. O moço, julgando ter na sua faculdade um meio
de enriquecer, já atendendo a consultas médicas, já realizando
inventos e descobertas produtivas, somente colheu
decepções."(Comunicação dada em 10 de junho de 1856)
-Obras Póstumas-2. ° parte.
Eis aí a lição : médium maleável, tendo possibilidade de ser muito
útil, não era bom médium, no sentido qualitativo, porque, em primeiro
lugar, sofria influência de um Espírito orgulhoso e, portanto, ainda
atrasado; em segundo lugar, porque se apresentava como inventor e queria
fazer muita coisa com o intuito de auferir vantagens através da
mediunidade. Tinha mediunidade positiva, não há dúvida mas não tinha
educação espiritual nem envergadura moral... De que valia, então, a
quantidade das mensagens que recebia? Não seria até melhor se recebesse
muito menos, ainda que fosse lá uma vez por outra, mas recebesse boas
mensagens, oriundas realmente de Espíritos orientadores ?
É muito
difícil, por isso mesmo, classificar os médiuns em juízos de valor.
Qual será, afinal, o bom médium, na acepção certa,? É melhor que não
entremos nesse terreno pois o médium é uma criatura com responsabilidade
tremenda. Mas ainda em processo de experiência, sujeito aos altos e
baixos da vida
humana... Devemos ajudá-los, compreendê-los, em suas tarefas. Mas não queiramos transformá-los em seres
intocáveis!...
Deolindo Amorim
Do livro: Ponto de Encontro 2 edição
Escritores: Celso Martins e Deolindo Amorim
Editora: Do Lar/ABC Do Interior
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