Raciocinemos sobre o tal Carnaval, um termo oriundo de uma festa
romana e egípcia em homenagem ao Deus Saturno, quando carros alegóricos
(a cavalo) desfilavam com homens e mulheres. Eram os carrum navalis, daí
a origem da palavra “carnaval”. Há quem interprete a palavra conforme
as primeiras sílabas das palavras da frase: carne nada vale. Como festa
popular, poderia ser um acontecimento cultural plausível, não fossem os
excessos cometidos em nome da alegria.
Nesses períodos os
carnavalescos alucinados surgem de todos os (re)cantos para caça da
contraversão da ética. Para muitos são longas as estações de dias e
noites para as preparações do delírio insano dos três dias de fantasias.
Vários incautos esfolam as finanças familiares para experimentar o
encanto efêmero de curtir dias de completa paranoia. Adolescentes e
marmanjos se abandonam nas arapucas pegajosas das drogas lícitas e
ílícitas. Não compreendem que bandos de malfeitores do além (obsessores)
igualmente colonizam as avenidas das escolas de samba num lúgubre show
de bizarrices. Celerados das escuridões espirituais se acoplam aos
bobalhões fantasiados pelos condutores invisíveis do pensamento, em face
dos entulhos concupiscentes que trazem no mundo íntimo.
Sobrevém
uma permuta vibratória em todos e em tudo. Os espíritos das brumas
umbralinas se conectam aos escravos de momo descuidados, desvirtuando-os
a devassidões deprimentes e jeitos grotescos de deploráveis implicações
morais. Tramas tétricas são armadas no além-tumba e levadas a efeito
nessas oportunidades em que momo impera dominador sobre as pessoas que
se consentem despenhar na festa medonha.
Enquanto olhos
embaciados dos foliões abrangem o fulgor dos refletores e das fantasias
brilhantes (inspirações ridículas impostas pelos malfeitores habitantes
das províncias lamacentas do além túmulo), nas avenidas onde percorrem
carros alegóricos (que, pasmem! já até transportou a efígie do Chico
Xavier sob aplausos de omissos líderes espíritas), a visão dos espíritos
observa o recinto espiritual envolto em carregadas e sombrias nuvens
cunhadas pelas oscilações de baixo teor mental.
Os três dias de
folia, assim, poderão se transformar em três séculos de penosas
reparações. É bom pensarmos um pouco nisso: o que o carnaval traz ao
nosso Espírito? Alegria? Divertimento? Cultura? É de se perguntar: será
que vale a pena pagar preço tão elevado por uns dias de desvario grupal?
Quando se pretende alcançar essa alegria, através do prazer desregrado e
dos excessos de toda ordem, o resultado é a insatisfação íntima, o
vazio interior provocado pelo desequilíbrio moral e espiritual.
Portanto, não fossem os exageros, o Carnaval, como festa de integração
sócio-racial, poderia se tornar um acontecimento compreensível, até
porque não admitir isso é incorrer em erro de intolerância. Porém, para
os espíritas merece reflexão a advertência de André Luiz: “Afastar-se de
festas lamentáveis, como aquelas que assinalam a passagem do carnaval,
inclusive as que se destaquem pelos excessos de gula, desregramento ou
manifestações exteriores espetaculares. A verdadeira alegria não foge da
temperança.” (1)
A efervescência momesca é episódio que satura,
em si, a carga da barbárie e do primitivismo que ainda reina entre nós,
os encarnados, distinguidos pelas paixões do prazer violento. Costuma
ser chamado de folia, que vem do francês folle, que significa loucura ou
extravagância. Nos dias conturbados de hoje, sabe-se que “(…) de cada
dez casais que caem juntos na folia, sete terminam a noite brigados
(cenas de ciúme etc); que, desses mesmos dez casais, posteriormente,
seis se transformam em adultério, cabendo uma média de três para os
homens e três para as mulheres (por exemplo); que, de cada dez pessoas
(homens e mulheres) no carnaval, pelo menos sete se submetem
espontaneamente a coisas que normalmente abominam no seu dia a dia, como
álcool, entorpecente etc. Dizem, ainda, que tudo isso decorre do êxtase
atingido na Grande Festa, quando o símbolo da liberdade, da igualdade,
mas, também, da orgia e depravação, somadas ao abuso do álcool, levam as
pessoas a se comportarem fora do seu normal (…)” (2)
O Espírito
Emmanuel adverte: “Ao lado dos mascarados da pseudo-alegria, passam os
leprosos, os cegos, as crianças abandonadas, as mães aflitas e
sofredoras. (…) Enquanto há miseráveis que estendem as mãos súplices,
cheios de necessidades e de fome, sobram as fartas contribuições para
que os salões se enfeitem.”(3)
Como proferi supra, nesse
panorama, os obsessores “influenciam os incautos que se deixam arrastar
pelas paixões de Momo, impelindo-os a excessos lamentáveis, comuns por
essa época do ano, e através dos quais eles próprios, os Espíritos, se
locupletam de todos os gozos e desmandos materiais, valendo-se, para
tanto, das vibrações viciadas e contaminadas de impurezas dos mesmos
adeptos de Momo, aos quais se agarram.” (4)
Portanto, além da
companhia de encarnados, vincula-se a nós uma inumerável legião de seres
invisíveis, recebendo deles boas e más influências a depender da faixa
de sintonia em que nos encontremos. As tendências ao transtorno
comportamental de cada um, e a correspondente impotência ou apatia em
vencê-las, são qual imã que atrai os espíritos desequilibrados e
fomentadores do descaso à dignidade humana, que, em suma, não existiriam
se vivêssemos no firme propósito de educar as paixões instintivas que
nos animalizam.
Será racional fechar as portas dos centros
espíritas nos dias de Carnaval, ou mudar o procedimento das reuniões?
Existem alguns centros que fecham suas portas nos feriados do carnaval
por vários motivos não razoáveis. Repensemos: uma pessoa com
necessidades imediatas de atendimento fraterno, ou dos recursos
espirituais urgentes em caso de obsessão, seria fraterno fazê-la esperar
para ser atendida após as “cinzas”, uma vez ocorrendo essa infelicidade
em dia de feriado momesco?
Os foliões crônicos declaram que o
carnaval é um extravasador de tensões, “liberando as energias”…
Entretanto, no carnaval não são serenadas as taxas de agressividade e as
neuroses. O que se observa é um somatório da bestialidade urbana e de
desventura doméstica. Aparecem após os funestos três dias as gravidezes
indesejadas e a consequente proliferação de assassinatos de intrusos
bebês nos ventres, incidem acidentes automobilísticos, ampliação da
criminalidade, estupros, suicídios, aumento do consumo de várias
substâncias estupefacientes e de alcoólicos, assim como o aparecimento
de novos viciados, dispersão das moléstias sexualmente transmissíveis
(inclusive a AIDS) e as chagas morais, assinalando, densamente, certas
almas desavisadas e imprevidentes.
O carnaval edifica o nosso
Espírito? Muitos espíritas, ingenuamente, julgam que a participação nas
festas de Carnaval, tão do agrado dos brasileiros, nenhum mal acarreta à
nossa integridade fisiopsicoespiritual. No entanto, por detrás da
aparente alegria e transitória felicidade, revela-se o verdadeiro atraso
espiritual em que ainda vivemos pela explosão de animalidade que ainda
impera em nosso ser. É importante lembrá-los de que há muitas outras
formas de diversão, recreação ou entretenimento disponíveis ao homem
contemporâneo, alguns verdadeiros meios de alegria salutar e
aprimoramento (individual e coletivo), para nossa escolha.
Não
vemos, por fim, outro caminho que não seja o da “abstinência sincera dos
folguedos”, do controle das sensações e dos instintos, da canalização
das energias, empregando o tempo de feriado do carnaval para a
descoberta de si mesmo; o entrosamento com os familiares, o aprendizado
através de livros e filmes instrutivos ou pela frequência a reuniões
espíritas, eventos educacionais, culturais ou mesmo o descanso, já que o
ritmo frenético do dia a dia exige, cada vez mais, preparo e estrutura
físico-psicológica para os embates pela sobrevivência.
Somente
poderemos garantir a vitória do Espírito sobre a matéria se
fortalecermos a nossa fé, renovando-nos mentalmente, praticando o bem
nos moldes dos códigos evangélicos, propostos por Jesus Cristo.
Referências bibliográficas:
(1) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, ditado pelo Espirito André
Luiz, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001, cap.37 “Perante As Fórmulas Sociais”
(2) São José Carlos Augusto. Carnaval: Grande Festa…De enganos! , Artigo publicado na Revista Reformador/FEB-Fev 1983
(3) Xavier , Francisco Cândido. Sobre o Carnaval, mensagem ditada
pelo Espírito Emmanuel, fonte: Revista Reformador, Publicação da FEB
fevereiro/1987
(4) Pereira, Ivone. Devassando o Invisível, Rio de Janeiro: cap. V, edição da FEB, 1998
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