Gigantesca
pela sua complexidade e difícil, graças aos muitos problemas, foi a
tarefa de Allan Kardec, em plena metade do século XIX. Exatamente no
momento em que as mentes mais esclarecidas se libertavam da imposição
dogmática, dando início à era da investigação racional com as armas da
pesquisa científica, quando os postulados religiosos padeciam a pública
desmoralização cultural dos seus
aranzeis metafísicos, ele se permitiu adentrar pelos dédalos das
dúvidas, a fim de aplicar os recursos da época na constatação da
experiência imortalista.
Munido de uma inteligência invulgar e profunda acuidade racional, caracterizado por um senso de observação pouco comum, agiu, com isenção emocional, no exame dos fenômenos mediúnicos, deles retirando a vasta documentação filosófica que integra o Espiritismo. Atuando sem pressa, e meticulosamente, não se permitiu influenciar por pessoas, ideias preconcebidas ou fatos isolados.
Em todos os momentos, esteve sempre munido de vigilância estóica, a fim de permanecer indene às agressões de adversários e aos encômios de amigos. Trabalhando sistemática e ordeiramente, a pouco e pouco, do fenômeno mediúnico puro e simples, arrancou a Doutrina Espírita, formulando questões momentosas, genéricas e específicas, sobre as várias e incontáveis inquietações em que se aturdia o espírito humano, recebendo significativas e sábias respostas que, transcorridos mais de cento e vinte anos, permanecem atuais, nada se lhes podendo retirar ou acrescer.
Como é certo que os abençoados Mensageiros do Mundo Espiritual sempre deram esclarecimentos pouco comuns, em face da estrutura e profundidade dos conceitos emitidos, não menos notáveis são os assuntos propostos que fomentaram e inspiraram os diálogos que permanecem insuperáveis.
Respondendo à crítica honesta com a lógica dos fatos, Kardec desmistificou a mediunidade, estabelecendo uma perfeita metodologia para o seu exercício, oferecendo instruções de segurança, ao mesmo tempo em que analisava os seus problemas e dificuldades com um critério absolutamente justo e seguro. Situou muito bem, e distintas, as posições do médium e dos Espíritos, as diferenças entre opiniões isoladas e a universalidade do ensLamento espírita, não se arrogando quaisquer situações de relevo ou chefia, antes pautando a conduta em plano de nobreza invulgar, especialmente se considerarmos a época em que a presunção, a fatuidade e o orgulho descabido mais se exaltavam.
Cordial e acessível, não se fez vulgar nem comum a pretexto de uma popularidade que, afinal, nunca lhe interessou. Sabendo, exatamente, qual a missão que lhe cumpria desempenhar, ateve-se ao ministério com reta austeridade, envidando todos os esforçosí até a consunção das forças para o seu desempenho.
Soube repelir com elevação de propósitos a mordacidade dos frívolos e a perseguição gratuita da ignorância, sem deixar-se espezinhar pela mesquinhez de combates e balbúrdias dos precipitados. Manteve-se sóbrio no opinar e meditativo no exame das ruidosas ocorrências do campo das afirmações sem base. Tudo caldeou, confrontou e aferiu até que brilhasse no diamante da verdade o enfoque puro, em forma de lição libertadora de consciências.
Sem jactância, não se arreceava corrigir o que fosse necessário, e embora não se fizesse portador da última palavra, denunciava o erro onde este se encontrasse, mantendo-se digno, sem descer, porém, à disputa injustificável ou ao palavrório insensato.
Não era fácil o empreendimento!
Num campo eivado de superstições, crendices e lendas, qual o que se referia aos Espíritos Desencarnados — por uns considerados deuses, anjos, demônios; por outros temidos ou envoltos nas confusas práticas da magia e do absurdo e ainda desacreditados e sempre confundidos por certa estirpe de pensadores presunçosos, que se tinham em tal posição cultural que lhes parecia humilhação qualquer envolvimento com eles — Allan Kardec demonstrou por processo claro e científico tratar-se simplesmente das almas dos homens que viveram na Terra, cada um prosseguindo conforme suas aquisições morais e intelectuais.
Desmistificou a morte, fechada em enigmas e cercada pelo conceito do sobrenatural, perdida no fantasioso e no absurdo, provando que morrer é somente mudar a forma de viver, sem transformação intrínseca por parte daquele que se transfere de um para outro plano vibratório. Provou à saciedade a paranormalidade dos fenômenos, retirando das fantasias e do medo quanto dizia respeito à Vida Espiritual, comprovando que o inabitual é normal, jamais sobrenatural ou fantástico...
Corrigiu o conceito em torno do "Culto aos mortos", cercado que vivia esse culto por excentricidades e liturgias totalmente vãs, fundamentando as instruções libertadoras na informação correta dos próprios mortos, sempre vivos além da cortina carnal...
Antecipou, através do exame dos fatos e das informações, incontáveis labores da ciência, que os vem confirmando no suceder das décadas, havendo oferecido à Doutrina Espírita uma estrutura firme, científica, no contexto das suas afirmações.
Quando a fenomenologia medianímica, exuberante e farta, atraiu a atenção de sábios outros de várias especialidades científicas, estes, após demorados e respeitáveis trabalhos, apresentaram os seus relatórios, sem nada acrescentarem aos resultados publicados pelo gênio de Lyon, cuja probidade intelectual e científica o guindou à condição de verdadeiro criador da técnica metapsíquica de investigação, a princípio, e parapsicológica, depois.
Por essas e outras considerações, o Espiritismo veio e ficou, dirimindo dúvidas e tornandose guia seguro no báratro da vida hodierna, em favor de uma existência sadia e útil entre os homens, livre e ditosa no além-túmulo. Ainda permanece incompreendido e sofre combate o insigne Codificador. Isto, porém, em nada o diminui ou desmerece, pelo contrário, mais o agiganta...
No momento em que variam as técnicas das "ciências da alma", no estudo da personalidade humana e dos droblemas que lhe são correlatos, o Espiritismo, conforme a Codificação Kardequiana, é a resposta clara e insofismável para as aflições que se abatem sobre o homem, dapdo cumprimento à promessa de Jesus, quanto ao Consolador, de que este, em vindo à Terra, não somente Lhe recordaria as lições, como também esclarecería, confortaria e conduziría o ser através dos tempos....
Fonte - Enfoques Espíritas (Divaldo Pereira Franco)
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