Os laços familiares não são obras do acaso. São o cumprimento da Lei
de Causa e Efeito, que representa o dever da responsabilidade que temos
sobre nossa conduta, seja através de atos, palavras ou pensamentos, que
une esses seres no presente impelidos pelas causas do passado. Por essa
razão, temos famílias nas quais vige o desentendimento entre seus
membros, famílias em que a harmonia impera entre seus membros e famílias
em que existe, às vezes, um indivíduo que destoa dos demais membros.
Com vistas à Lei do Progresso – da qual nada nem ninguém escapa – os
seres se reúnem para saldarem as dívidas de uns para com os outros.
Muitas vezes, tentamos fugir desses débitos, mas não adianta, porque
seremos sempre constrangidos a liquidá-los com nossos credores. Mais
cedo ou mais tarde, estaremos juntos a eles no cumprimento dos desígnios
divinos.
Por esse motivo, a equipe familiar, no mundo, nem
sempre é um jardim florido. Na maioria das vezes, é um espinheiro de
preocupações e de angústias que exige, de cada um de nós, um grande
número de renúncias e sacrifícios, que nem sempre estamos dispostos a
fazer. Então, mais uma vez, é preciso lembrar que seremos chamados a
prestar contas das nossas atitudes despóticas dentro do lar, da nossa
intolerância, da nossa negligência para com os seres que foram colocados
ao nosso lado, da nossa intransigência em não aceitar as diferenças nas
formas de pensar e agir, numa guerra psicológica surda, que pode ter
consequências dolosas para os seres mais frágeis que compõem o grupo
familiar e a quem deveríamos dar proteção. Seremos, sim, chamados a
responder pelo que fizermos aos nossos filhos, aos nossos pais, aos
nossos companheiros de jornada.
Todos os parentes, sejam eles
consanguíneos ou afins, começando pelos nossos pais, são obras de amor
que Deus nos deu a realizar. É preciso ajudá-los, amparando-os, através
da cooperação, do carinho, atendendo aos desígnios da fraternidade,
lembrando que a caridade começa em nosso lar. Nossos pais, por exemplo. A
lei humana exige – sob pena de responsabilidade penal – que eles sejam
assistidos em suas necessidades, sobretudo se impedidos de conseguir seu
próprio sustento. E o que fazemos? Nós os colocamos nos menores
quartos, dando somente e estritamente o necessário, sem nos lembrarmos
dos pequenos gestos, que tanto aquecem o coração. Isso quando não os
forçamos a trabalhos domésticos, como forma de pagamento por aquilo que
lhes é de direito − nosso dever de cuidado.
Mas, a lei moral que
nos alcança, além da lei humana, orienta-nos – sob pena de sermos
chamados à responsabilidade diante das Leis Divinas – a cuidar deles em
atenção às suas necessidades, inclusive, e, principalmente, as afetivas.
A Instrutora Espiritual Joanna de Ângelis lembra esse nosso
dever com a seguinte frase: “não percas a oportunidade de semear dentro
de casa”, porque ela é a primeira escola de amor onde somos colocados
para aprender a amar. Um exemplo que podemos destacar são os déspotas
domésticos: pessoas dóceis fora de casa e que criam o terror dentro
dela, fazendo com que sejam temidos por criaturas que deveriam amá-los.
Tristes figuras essas que dizem orgulhosos: “em casa sou obedecido,
porque todos me temem”, porque poderiam acrescentar a essa frase: “e
também sou odiado”.
O lar é uma praia estreita que nos dá
condição, através das vivências que ali experimentamos, de servirmos com
êxito – no futuro - no mar alto das grandes experiências. É preciso
aprender no pouco para experimentar no muito com maior segurança.
Assim, o exemplo que cada um de nós dá no ambiente doméstico passa a
ser o adubo que vai propiciar o desenvolvimento de valores positivos ou
negativos nesse meio, fortalecendo ou não atitudes que poderão, mais
tarde, comprometer, diante das Leis de Deus, o processo evolutivo dos
Espíritos envolvidos nesse processo de reajuste reencarnatório. Sob esse
prisma, podemos entender, então: 1 – que uma família não se mede pelo
número de membros que a compõe ou pelo tempo que essas pessoas passam
juntas; 2 – que não é um ato religioso ou civil que forma uma família,
mas o sentimento que une essas pessoas e que dá sentido à palavra
família.
Desse modo, cabe uma pergunta que Kardec fez aos Espíritos superiores: “A família acaba com o desencarne de seus componentes?”*
E os Benfeitores responderam que quando o sentimento que une essas
pessoas é verdadeiro, baseado no amor, no respeito, no companheirismo de
uns para com os outros, ela sobreviverá além da vida material. Esses
laços são fortes e mais se consolidam no plano espiritual. Encontram-se
lá e reúnem-se de novo para outras tarefas na vida material. Temos aí as
famílias harmoniosas.
Agora, quando os sentimentos são de ordem
puramente material, baseados no egoísmo e no orgulho, nas ilusões de
nomes ilustres, de cargos, fortunas ou beleza física, o desencarne, às
vezes, apenas de um dos seus membros, romperá esses laços e a família
desaparecerá. Não mais se encontrarão na vida espiritual como tal, mas
deverão reencontrar-se em novas existências para saldarem os débitos
contraídos uns com os outros. É isso que explica a existência de
famílias em desequilíbrio, em constante desarmonia, em eternas
cobranças.
Por essa razão, a advertência de Jesus ainda é muito
preciosa: “Ama o teu próximo como a ti mesmo”. Inicia, dentro do lar, o
plantio de amor que irá converter-se em colheita farta de bons frutos.
*Ver "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, capítulo 14.
Fonte: Leda Maria Flaborea
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