Desde tempos imemoriais, a Ciência vem-se dedicando exclusivamente
ao estudo dos fenômenos do mundo físico, suscetíveis de serem examinados
pela observação e experimentação, deixando a cargo da Religião o trato
das questões metafísicas e espirituais.
Com o avanço científico nos
últimos séculos, principalmente no XIX, o divórcio entre Ciência e
Religião transformou-se em beligerância.
Apoiada na Razão, e
superestimando os descobrimentos no campo da matéria, a Ciência passou a
zombar da Religião, enquanto esta, desarvorada e ferida em seus
alicerces - os dogmas sem prova -, revidava como podia, lançando
anátemas às conquistas daquela, apontando-as como contrárias à Fé.
Devido a posição extremada que tomaram e ao ponto de vista exclusivo que
defendiam, Ciência e Religião deram à Humanidade a falsa impressão de
serem irreconciliáveis e que os triunfos de uma haveriam de custar,
necessariamente, o enfraquecimento da outra.
Não é assim, felizmente.
O Espiritismo, embora ainda repelido e duramente atacado, tanto pela
Ciência como pela Religião ditas oficiais, veio trazer, no momento
oportuno, preciosa cota de conhecimentos novos, do interesse de ambas,
oferecendo-lhes, com isso, o elo de ligação que lhes faltava, para que
se ponham de acordo e se prestem mútua cooperação, porque, se é exato
que a Religião não pode ignorar os fatos naturais comprovados pela
Ciência, esta, igualmente, jamais chegaria a completar-se se continuasse
a fazer tábua rasa do elemento espiritual.
Graças ao Espiritismo,
começa-se a reconhecer que o homem, criatura complexa que é, formada de
corpo e alma, não sofre apenas as influências do meio físico em que
vive, quais o clima, o solo, a alimentação, etc, mas tanto ou mais
influências da psicosfera terrena, ou seja, das entidades espirituais -
boas ou más - que coabitam este planeta (os chamados anjos ou demônios),
as quais interferem em seu comportamento em muito maior escala do que
ele queira admitir. Daí a recomendação do Cristo: "orai e vigiai para
não cairdes em tentação."
Graças ainda ao Espiritismo, sabe-se,
hoje, que o espírito (ou alma) não é mera "função" do sistema
sensório-nervoso-cerebral, como apregoava a pseudo-ciência materialista,
nem tão-pouco uma "centelha" informe, incapaz de subsistir por si
mesma, como o imaginavam as religiões primevas ou primárias, mas sim um
ser individualizado, revestido de uma substância quintessenciada, que,
apesar de imperceptível aos nossos sentidos grosseiros, é passível de,
enquanto encarnado, ser afetado pelas enfermidades ou pelos traumatismos
orgânicos, mas que, por outro lado, também afeta o indumento (soma) de
que se serve durante a existência humana, ocasionando-lhe, com suas
emoções, distúrbios funcionais e até mesmo lesões graves, como o atesta a
psiquiatria moderna ao fazer medicina psicossomática.
Quanto mais o
homem desenvolve suas faculdades intelectuais e aprimora suas
percepções espirituais, tanto mais vai-se inteirando de que o mundo
material, esfera de atuação da Ciência, e a ordem moral, objeto
especulativo da Religião, guardam íntimas e profundas relações entre si,
concorrendo, uma e outra, para a harmonia universal, mercê das leis
sábias, eternas e imutáveis que os regem, como sábio, eterno e imutável é
o Seu legislador.
Não pode nem deve haver, portanto, nenhum
conflito entre a verdadeira Ciência e a verdadeira Religião. Sendo, como
são, expressões da mesma Verdade Divina, o que precisam fazer é dar-se
as mãos, apoiando-se reciprocamente, de modo que o progresso de uma
sirva para fortalecer a outra e, juntas, ajudem o homem a realizar os
altos e gloriosos destinos para que foi criado.
Do livro "As
Leis Morais", de Rodolfo Calligaris. Capítulo baseado no Livro dos
Espíritos, Cap. I, q. 614 e seguintes, de Allan Kardec.
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