“Não julgueis, e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que
julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes
medido, também vós sereis medidos. Por que olhas a palha que está no
olho de teu irmão e não vês a trave que está no teu? Hipócrita! Tira
primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do
teu irmão”.
Jesus
Mateus, 7:1 a 5
Esclarecimentos iniciais:
Julgar (do Latim Judicare) significa:
verbo transitivo: decidir como juiz ou árbitro; sentenciar; entender;
avaliar; formar juízo; lavrar ou pronunciar sentenças; apreciar;
verbo intransitivo: formar opinião, conceito a respeito de pessoa ou coisa; ajuizar.
Existe aí uma pequena confusão. A palavra crítico (do Latim. criticu ,
do Grego. Kritikós) tem como significado “capaz de julgar”, mas no
sentido de avaliar.
Daí decorre que geralmente pensamos na
palavra “criticar” num sentido negativo - destacar falhas nos outros.
Mas a palavra “criticar” significa simplesmente “avaliar”.
Entendendo as palavras do Mestre
Neste passo, as palavras de Jesus não significam estar contra o julgamento civil.
O próprio Mestre, apesar da grandiosidade de seu espírito, a despeito
de ser o maior que veio a Terra (questão 625 de “O Livro dos
Espíritos”), que estava em condições de exercer qualquer espécie de
julgamento, não concordou em desempenhar o papel de juiz:
"Disse-Lhe então alguém do meio do povo: “Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a
herança”. Jesus respondeu-lhe: “Meu amigo, quem me constituiu juiz ou árbitro entre vós?”
Lucas, 12:13 e 14
Pedro, discípulo ocular de Jesus, em sua Primeira Epístola, no capítulo II, versículos 13 e 14, relembra o ensino do Mestre:
“Por amor do Senhor, sede submissos, pois, a toda autoridade humana, quer ao rei como soberano, quer aos
governadores como enviados por ele para castigo dos malfeitores e para favorecer as pessoas honestas”.
Como a Bíblia não se contradiz, Paulo, Apóstolo dos Gentios, reafirma:
“Admoesta-os a que sejam submissos aos magistrados e às autoridades,
sejam obedientes, estejam prontos para qualquer obra boa”.
Epístola a Tito, 3:1
e
“Cada qual seja submisso às autoridades constituídas. Porque não há autoridade
que não venha de Deus, e as que existem foram instituídas por Deus”.
Epístola aos Romanos, 13:1
Então qual o propósito de Jesus ao “ordenar”: precisamos parar de julgar?
Em Mateus, 5:17, Ele deixa claro que não queria modificar a lei ou os
profetas, mas dar-lhes novo entendimento. Dessa forma Ele falava aos
judeus:
1) Os judeus já estavam seguindo Jesus por onde quer que
Ele fosse, na tentativa de achar alguma falha para acusá-Lo (Lucas, 6:1 a
7);
2) Os escribas e fariseus eram culpados do tipo de julgamento que Jesus estava denunciando (Lucas, 18:9 a 14);
3) Em Mateus, 5:20, Ele disse: “(…) Se a vossa justiça não exceder em
muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”
Quando Jesus nos disse: não julgueis para não serdes julgados, Ele quis
nos dizer para não condenarmos a criatura, e não a sua atitude. Ele
quis nos dizer para não denegrir a criatura, não condenar a criatura e
sim o mal que ela possa ter feito.
Então, reprimir o mal é nosso
dever. Censurar o mal, também, mas não as criaturas. É através do
exemplo que devemos educar. As palavras, até convencem, mas os exemplos
arrastam.
De um modo geral, somos benevolentes para com os nossos erros e muito severos para com os erros dos outros.
A nossa tendência é nos acharmos as criaturas mais perfeitas da face da
Terra. Sempre estamos certos e os outros sempre errados.
As palavras de Jesus ensinam que existe um determinado tipo de julgamento que devemos evitar:
Tendencioso: Uma deficiência comum é permitir que nossa formação,
nossos preconceitos e preferências influenciem nosso julgamento. É
difícil evitar isto. Dizem que os gregos antigos às vezes realizavam
julgamentos no escuro para serem influenciados somente pelos fatos.
Precipitado: Acontece com freqüência de julgarmos os outros
precipitadamente, sem ter todos os fatos ou conhecer todas as
circunstâncias. Muitas vezes, não temos as informações completas sobre o
que realmente aconteceu. Pode ser que não entendamos o histórico ou a
motivação do indivíduo acusado. Talvez não saibamos se aquele ato foi a
regra ou uma exceção na vida dele. Antes de instruir a multidão a
“julgar com reta justiça”, Jesus disse: “Não julgueis segundo a
aparência” (João, 7:24).
Severo: Como resultado das perspectivas
negativas acima citadas, ao se formular um julgamento, não raro somos
severos e hipercríticos em nosso parecer, quando deveríamos temperar
nossa análise com misericórdia e amor. Pedro disse: “Antes de tudo,
mantenham entre vós uma ardente caridade, porque a caridade cobre a
multidão de pecados” (1 Pedro, 4:8).
Dar-se bem com os outros é
em grande parte uma questão de espírito. Por um lado, há um espírito
amoroso e compassivo que acredita no melhor e tenta elevar e ajudar o
outro. Por outro lado, há um espírito severo, insensível e julgador que
se deleita em ver alguém “receber o que merece”. Este conflito está
representado na espada a nós prometida pelo Mestre dos Mestres em Mateus
10:34.
Insensível: Jesus também estava condenando a atitude de
pensar o pior sobre o que as pessoas fazem, em vez de pensar no melhor.
Em 1 Coríntios 13:4 a 7, Paulo diz, em outras palavras, que o amor está
“sempre ávido para crer no melhor”.
É verdade que podemos
conhecer uma pessoa pelo que ela faz, mas geralmente seus atos estão
sujeitos a pelo menos duas interpretações diferentes: uma boa e outra
má. Nesse caso, qual interpretação geralmente consideramos para o que
essa pessoa fez?
E Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”. Lucas, cap. 23:34
Com estas palavras Jesus nos ensina em primeiro lugar, que ao Pai
compete o nosso julgamento;.em segundo, Ele se apresenta como defensor
daqueles que O ofendem.
Isto implica dizer que, no âmbito da lei
de causa e efeito, seremos bitolados pelo mesmo gabarito que usarmos
contra o nosso irmão no desenrolar das nossas vidas terrenas.
Que Paz do Senhor seja com todos.
Fraternal abraço.
Marcos José Ferreira da Cruz Machado
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