terça-feira, 13 de março de 2018

Como está seu relacionamento com Deus?

Por Geraldo Esteves Sobrinho

Havia um sábio e exímio curador, muito procurado pelos sofredores do corpo e da alma, que recebia a todos com esse questionamento: Como está o seu relacionamento com Deus?

Certa vez alguém lhe disse: “Por que você sempre pergunta isso?”.
Muito simples, respondeu: “Podemos acreditar em Deus, professarmos uma religião, doutrina ou filosofia, frequentarmos templos e igrejas, e, ainda assim, lamentavelmente, não conseguirmos vencer a superficialidade na forma como nos relacionamos com Ele”.





Mais uma pequena pausa e continuou: “Esta superficialidade é alimentada por todo e qualquer tipo de culto exterior, comportamentos condicionados e ideias preconcebidas. Se nos detivermos somente neste estado, digamos primário, seremos vítimas de distrações e ilusões. Tais distrações e ilusões acabam por criar uma acomodação, fazendo acreditar que somente isso é suficiente e que estamos quites com o Criador”.

“Mas o que fazer então?”. Indagou.
A resposta veio de imediato: “Todo relacionamento exige cumplicidade, lealdade e compromisso que se traduzem numa comunhão de sentimentos. Mas não é só isso! A busca pela Verdade, aliada ao esforço constante da reforma interior e prática do Amor fortalecem os laços de união. Agindo assim conseguiremos nos religar, sem perda de tempo e sem evasivas, à Fonte de onde viemos e certamente retornaremos. Mais do que aguardar a ação do tempo, precisamos obrar pelo despertamento, com esforço próprio e perseverança”.

Muita paz!

Geraldo Esteves Sobrinho

Reflexão inadiável

MORTE

Sendo a mente o espelho da vida, entenderemos sem dificuldade que, na morte, lhe prevalecem na face as imagens mais profundamente insculpidas por nosso desejo, à custa da reflexão reiterada, de modo intenso. Guardando o pensamento — plasma fluídico — a precisa faculdade de substancializar suas próprias criações, imprimindo-lhes vitalidade e movimento temporários, a maioria das criaturas terrestres, na transição do sepulcro, é naturalmente obcecada pelos quadros da própria imaginação, aprisionada a fenômenos alucinatórios, qual acontece no sono comum, dentro do qual, na maioria das circunstâncias, a individualidade reencarnada, em vez de retirar-se do aparelho físico, descansa em conexão com ele mesmo, sofrendo os reflexos das sensações primárias a que ainda se ajusta.
Todos os círculos da existência, para se adaptarem aos processos da educação, necessitam do hábito, porque todas as conquistas do espírito se efetuam na base de lições recapituladas.





As classes são vastos setores de trabalho específico, plasmando, por intermédio de longa repercussão, os objetivos que lhes são peculiares naqueles que as compõem.
É assim que o jovem destinado a essa ou àquela carreira é submetido, nos bancos escolares, a determinadas disciplinas, incluindo a experiência anterior dos orientadores que lhe precederam os passos na senda profissional escolhida.
O futuro militar aprenderá, desde cedo, a manejar os instrumentos de guerra, cultuando as instruções dos grandes chefes de estratégia, e o médico porvindouro deverá repetir, por anos sucessivos, os ensinos e experimentos dos especialistas, antes do juramento hipocrático.
Em todas as escolas de formação, vemos professores ajustando a infância, a mocidade e a madureza aos princípios consagrados, nesse ou naquele ramo de estudo, fixando-lhes personalidade particular para determinados fins, sobre o alicerce da reflexão mental sistemática, em forma de lições persistentes e progressivas.
Um diploma universitário é, no fundo, o pergaminho confirmativo do tempo de recapitulações indispensáveis ao domínio do aprendiz em certo campo de conhecimento para efeito de serviço nas linhas da coletividade.
Segundo o mesmo principio, a morte nos confere a certidão das experiências repetidas a que nos adaptamos, de vez que cada espírito, mais ou menos, se transforma naquilo que imagina.
É deste modo que ela, a morte, extrai a soma de nosso conteúdo mental, compelindo-nos a viver, transitoriamente, dentro dele. Se esse conteúdo é o bem, teremos a nossa parcela de céu, correspondente ao melhor da construção que efetuamos em nós, e se esse conteúdo é o mal estaremos necessariamente detidos na parcela de inferno que corresponda aos males de nossa autoria, até que se extinga o inferno de purgação merecida, criado por nós mesmos na intimidade da consciência.
Tudo o que foge à lei do amor e do progresso, sem a renovação e a sublimação por bases, gera o enquistamento mental, que nada mais é que a produção de nossos reflexos pessoais acumulados e sem valor na circulação do bem comum, consubstanciando as idéias fixas em que passamos a respirar depois do túmulo, à feição de loucos autênticos, por nos situarmos distantes da realidade fundamental.
É por esta razão que morrer significa penetrar mais profundamente no mundo de nós mesmos, consumindo longo tempo em despir a túnica de nossos reflexos menos felizes, metamorfoseados em região alucinatória decorrente do nosso monoideísmo na sombra, ou transferindo-nos simplesmente de plano, melhorando o clima de nossos reflexos ajustados ao bem, avançando em degraus conseqüentes para novos horizontes de ascensão e de luz.

EMMANUEL

(Pensamento e Vida, 29, Francisco Cândido Xavier)

domingo, 4 de março de 2018

ASSIM SÃO OS HOMENS

Transmitida pelo Espírito de Victor Hugo

O egoísta, o usurário, não fixa ponto algum - fica com os olhos semicerrados, abrindo-os apenas para não tropeçar pelos caminhos; não fita o céu senão para verificar se chove ou faz sol; tem a alma concentrada nos bolsos, nas gavetas ou nos Bancos, onde deposita seus haveres; gesticulam quando calculem quanto lhe rendem os capitais; seu Espírito fica aferrolhado na carne, até que esta apodreça e, então, a Morte os leva perante o tribunal divino...

O homicida, o celerado, o larápio, o traidor, quando andam, voltam-se constantemente para a retaguarda e para os lados; não levantam o olhar do solo, temendo erguê-lo e defrontar alguma de suas vítimas; quando a sós, as fisionomias tornam-se hediondas; os pensamentos sombrios, que abrem vincos na fronte e se entrechocam no cérebro, como nuvens plenas de relâmpagos, fazem aprumar seus cabelos no crânio ardente; com as mãos crispadas como garras, revolvem a barba ou as comas hirsutas; não sabem meditar, mas cogitar em crimes praticados ou por praticar, de cenho contraído quais víboras no Inverno; os punhos estão sempre cerrados, ameaçadores; às vezes estremecem, estatelam os olhos como se estivessem prestes a cair num vórtice, ou como se ouvissem tropel ou gemidos de espectros vingadores...

O homem frívolo, sempre conjecturando deleites mundanos e festivais ruidosos, sorri alvarmente e logo o rosto fica inexpressivo, porque a alma borboleteia pelos salões ou pelos antros em que passa todas as noites; não tem, nunca, o Espírito integral, mas fragmentado, esfacelado - um pedaço em cada lugar de prazer... Olvida Deus e a Natureza.

Somente o justo, o observador profundo, o que cumpre austeramente seus deveres, o que tem a consciência reta e sã, possui atitude calma, quase estática, quando se acha isolado. Esquece-se de si mesmo, recorda os entes amados que lhe povoam a alma serena, pensa na Humanidade e deseja beneficiá-la; lembra-se de Deus, ama o Universo, quer cheio de trevas, quer inundado de sóis; seu olhar, como o de um condor equilibrado no espaço, divaga pela amplidão sidérea, tentando perscrutar os arcanos da Criação...

(Trecho da Obra 'Do Calvário ao Infinito', transmitida pelo Espírito de Victor Hugo, médium Zilda Gama).

Acatemos a dor física como educadora da alma

Por Jorge Hessen

Uma comovente batalha judicial dos pais de um bebê britânico em estado terminal acabou envolvendo até mesmo o Papa Francisco. Trata-se de Charlie Gard que sofre de síndrome de miopatia mitocondrial, uma síndrome genética raríssima e incurável que provoca a perda da força muscular e danos cerebrais. Ele nasceu em agosto de 2016 e, dois meses depois, precisou ser internado, onde permanece desde então, no Hospital Great Ormond Street, em Londres.
O serviço de saúde pública do Reino Unido (NHS) explicou que Charlie tem danos cerebrais irreversíveis, não se move, escuta ou enxerga, além de ter problemas no coração, fígado e rins. Seus pulmões apenas funcionam por aparelhos. O NHS disse que os médicos chegaram a tentar um tratamento experimental trazido dos EUA, mas Charlie não apresentou melhora. Por isso, defende o desligamento dos aparelhos que o mantêm vivo.

Mas seus pais, Chris Gard e Connie Yates - e uma comunidade de apoiadores -, lutam contra a decisão do hospital e pedem permissão para levar o bebê aos Estados Unidos para receber o tratamento experimental diretamente. No dia 27 de junho de 2017, entretanto, eles perderam a última instância do pedido na Justiça britânica, que avaliou que a busca pelo tratamento nos EUA apenas prolongaria o sofrimento do bebê sem oferecer possibilidade de cura.
A Corte Europeia de Direitos Humanos também concluiu que o tratamento "causaria danos significativos a Charlie", seguindo a opinião dos especialistas do hospital, e orientou pelo desligamento dos aparelhos. No dia 02 de julho de 2017, após a decisão da Justiça britânica, o Papa Francisco pediu que os pais de Charlie possam "tratar de seu filho até o fim". O Vaticano disse que o papa estava acompanhando o caso "com carinho e tristeza".

O serviço de saúde pública do Reino Unido (NHS) não propõe a eutanásia, mas a ortotanásia [1]. Os pais de Charlie lutam pela distanásia, ou seja, desejam o prolongamento artificial do processo de tratamento, o que para os juízes e médicos tem trazido sofrimento para Charlie, e nessa situação a medicina não prevê possibilidades de melhoria ou de cura.
No Brasil, médicos revelam que eutanásia é prática habitual em UTI’s, e que apressar, sem dor ou sofrimento, a morte de um doente incurável é ato frequente e muitas vezes pouco discutido nas UTIs dos hospitais brasileiros. [2] Nos Conselhos Regionais de Medicina, a tendência é de aceitação da eutanásia, exceto em casos esparsos de desentendimentos entre familiares, sobre a hora de cessar os tratamentos.

Médicos e especialistas em bioética defendem a ortotanásia, como no caso de Charlie Gard, que é o ato de retirar equipamentos ou medicações, de que se servem para prolongar a vida - Charlie hoje se encontra em estado terminal. Ao retirar esses suportes de vida (equipamentos ou medicações), mantendo apenas a analgesia e tranquilizantes, espera-se que a natureza se encarregue de agenciar a fatalidade biológica (morte).

Charlie está sofrendo com intensidade? Sim, está! Mas toda dor tem a sua serventia. Sob o ponto de vista espírita, aprendemos que a agonia física prolongada pode ter finalidade preciosa para a alma, e a moléstia incurável pode ser, em verdade, um bem. Nem sempre conhecemos as reflexões que o Espírito pode fazer nas convulsões da dor biológica e os tormentos que lhe podem ser poupados graças a um relâmpago de arrependimento.

Entendamos e acatemos a dor física, como instrutora das almas e, sem vacilações ou indagações descabidas, amparemos quantos lhes experimentam a presença constrangedora e educativa, lembrando sempre que a nós compete, tão-somente, o dever de servir, porquanto a Justiça, em última instância, pertence a Deus, que distribui conosco o alívio e a aflição, a enfermidade, a vida e a morte no momento oportuno.

O verdadeiro cristão porta-se, sempre, em favor da manutenção da vida e com respeito aos desígnios de Deus, buscando não só minorar os sofrimentos do próximo - sem eutanásias passivas, claro! - mas também confiar na justiça e na bondade divina, até porque nos Estatutos de Deus não há espaço para dores injustas.

Jorge Hessen

Notas:
[1]Etimologicamente, a palavra "ortotanásia" significa "morte correta", onde orto = certo e thanatos = morte. A ortotanásia, ou "eutanásia passiva" pode ser definida como o não prolongamento artificial do processo natural de morte, onde o médico, sem provocar diretamente a morte do indivíduo, suspende os tratamentos extraordinários que apenas trariam mais desconforto e sofrimento ao doente, sem melhorias práticas.
[2]Associação de Medicina Intensiva Brasileira nega que a eutanásia seja frequente nas UTIs no Br